Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Os únicos responsáveis

Os únicos responsáveis

O homem nutre muitas crenças para não se sentir sozinho no Universo, e nutre muitas outras para não se sentir sozinho e responsável no Universo. Responsável pelas escolhas que faz, pelas atitudes que toma ou deixa de tomar, e, consequentemente pelo reflexo de suas ações ou omissões no agir alheio e nas circunstâncias que cria em sua vida. Nutre muitas crenças para fugir da responsabilidade de ser ele mesmo e assumir ser quem é.
Tais crenças podem ser de religiosas até a crença no futuro, no amanha: "Porque amanha tudo vai ser diferente, eu serei diferente", "porque se Deus quiser...". E enquanto Deus não quer e o amanha não chega o homem se isenta da responsabilidade por tornar realidade o que ele deseja e efetivar nele mesmo ou na sua vida as mudanças que espera. Vivemos num mundo em que poucas pessoas vivem, a maioria existe e crê: Crê no futuro, crê no "poder divino", crê no poder do tempo e suas mudanças milagrosas, acreditam demais em tudo e pouco em si mesmas, concretizam na mente o poder do que e de quem não podem ver e duvidam de sua própria força para fazer o que quiserem de suas vidas, inclusive evoluir, se auto-modificar, se recriar.
Amadurecer é tomar consciência da responsabilidade que temos por ser nós mesmos, de que o veículo de nosso destino esta em nossas mãos e somos nós os responsáveis por ele e pelo rumo que a ele daremos. Viver, é mais do que existir e passar a vida achando culpados ou coadjuvantes para os nossos méritos, viver é tomar as rédeas de nossa existência com a plena consciência de que somos os únicos responsáveis pelo que nela fazemos desde o momento em que entramos no mundo até o momento em que dele saímos.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 31 de outubro de 2008.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Os riscos das palavras.

Os riscos das palavras.

As palavras podem ser anjos ou demônios, podem ser letais como armas de grande calibre, podem ser salvadoras como as mãos de um médico ao auxiliar um necessitado.
É através do uso das palavras que o homem assume riscos homéricos. Risco de magoar, risco de ferir, de causar na alma alheia dor indelével, ou, simplesmente o risco de encantar, de cativar.
Sim, porque cativar também é arriscado, gera a responsabilidade de cuidar do que foi conquistado com respeito, de demonstrar em atitudes o que as palavras doces e sinceras fizeram pulsar.
Triste é o risco que assume os que não pensam no que dizem, não ponderam o que fazem. Palavras mal colocadas acabam com o respeito, com sentimentos, com relacionamentos.
O perdão existe, obviamente, para ser pedido e concedido, mas não tem o condão de retirar do mundo e do coração de quem ouve alguma palavra ofensiva. Bom é viver, se expressar, sem contar com o perdão alheio por palavras mal colocadas, sem precisar pedi-lo enfim.
O homem precisa aprender a cuidar o que fala porque assume muitos riscos usando sua boca, exprimindo palavras que, muitas vezes, referem sentimentos inexistentes. Pode magoar, pode quebrar a confiança ou o amor, e, via de regra, vasos quebrados não voltam a ser belos como outrora foram. As palavras deixam marcas, salvam ou afundam relações e sentimentos.

Cláudia de Marchi
Passo Fundo/RS
, 19 de outubro de 2008.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Jogo de culpas

Jogo de culpas

As pessoas complicam suas relações por intransigência, por quererem ter razão, por atribuírem ao outro características suas, por não conseguirem respeitar o ponto de vista alheio sem culpa-lo, sem tirar de si mesmo muitas culpas e pesares para jogarem no outro. Via de regra, em qualquer discussão, inexiste o certo ou o errado, a parte cheia da razão ou a parte abstida dela, existem, isto sim, duas pessoas que desejam, ou não, contemporizar.
O problema é quando se inicia um jogo de culpas: "Você fez isso, você é assim, eu posso estar errada neste ponto, você esta errado naquele e naquele outro". Tirar de si, jogar no outro, ou, simplesmente, não assumir as suas próprias culpas e desejar atribui-las apenas ao outro, é uma forma cruel de desrespeitar, não apenas a outra pessoa, mas a relação, ao sentimento que ainda pode existir, ainda que seja de mero carinho.
Embora possa uma pessoa ter errado mais, fato é que se existe vontade de transigir, se ainda existem conversas a serem feitas, jogar culpas, ou inventar culpas para atribuir ao outro é algo insano, além de cruel. Em qualquer tipo de diálogo, de interação entre duas ou mais pessoas, o homem justo não busca persuadir o outro, não deseja ter razão, almeja, apenas, expor seu ponto de vista e ser respeitado. O diálogo não é um campo de batalhas em que a vitória é almejada, ele é a única forma dos racionais se entenderem desde que desarmados de sentimentos de cólera ou orgulho.
Ser respeitado não significa ouvir "é, você tem razão", ou um sarcástico "não adianta, você tem que ter sempre razão". Em qualquer tipo de relacionamento, é preferível ser feliz, ter paz e tranqüilidade a ganhar a razão. Ou seja, a pessoa deseja se fazer entender, ser compreendida, não aplaudida. Razões, argumentos a seu favor, cada pessoa terá os seus, tendo em vista o que são, como foram educados e o que aprenderam com a vida, são pessoas diferentes, pontos de vista diversos, culturas, muitas vezes, opostas: Cada um com o que chama de "suas razões".
Respeitar é saber ouvir, transigir é ouvir para entender, para compreender o outro e sua forma de ver, de analisar a vida, a relação e suas situações. Transige quem ouve desejando compreender e não ter razão ou tirar a razão do outro lhe julgando através de seu ponto de vista, transige quem quer paz e não brigas, quem quer entender e não acusar, quem quer uma interação madura e não um jogo de culpas insano onde todos saem perdendo.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 21 de outubro de 2008.

A esperança da mudança alheia.

A esperança da mudança alheia.

Como advogada ouço coisas assustadoras. Não falo de confissões de crimes, falo de pessoas, mulheres ou homens, que falam que passaram 26 anos casados com alguém que lhes tratava mal, com quem conversavam, tentavam deixar, mas, ouvindo promessas de mudanças davam chances: uma, duas, três, inúmeras chances, pensando que o outro mudaria. Falo de uma mulher jovem, que agindo em legítima defesa matou o marido que lhe batia: "Eu deixava dele, ele dizia que ia mudar e eu voltava".
Afirmativas assim, carregadas da mais triste das frustrações mechem com meus nervos. Até que ponto o amor perdoa? Até que ponto alguém pode mudar? Até que ponto uma pessoa consegue persuadir a outra em relação a sua mudança, e, porque e por quem, afinal, alguém pode mudar? São afirmativas de resposta difíceis, cujo sentido desconheço.
Segundo opinião de boa parte das pessoas que conheço ninguém muda. Segundo minhas concepções todos podem mudar, estamos na vida para aprender e melhorar, ou seja, sermos amanha um pouco mais, um pouco melhores do que somos hoje, logo, de uma forma ou de outra, a vida incita a mudança. A questão é o que pode motivar alguém a mudar, e quem é, de fato este alguém.
Pessoas de alma dura, de espírito empedernido (e existem várias), usam a afirmativa de que irão mudar para persuadir os outros. Eles mesmos não reconhecem seus defeitos, não conseguem se auto-perceber, logo, jamais conseguirão mudar de verdade sem tomarem consciência de si mesmos e de suas fraquezas. Pelo contrário, existem os que aprendem com a vida, seja através do amor, seja através da dor, estes, quiçá mereçam votos de confiança, e quiçá, também jamais precisem pedi-lo, porque mudam por si mesmos, sem que ninguém precise lhes pedir.
Mudar por alguém? Não sei se é necessário ou possível. A grande maioria das pessoas precisa mudar por ela mesma, por perceber que suas escolhas não estão lhe levando a um bom rumo, não estão lhe fazendo feliz. O homem muda, realmente, quando aprende algo que ainda não havia aprendido. Assim, a mudança será por ele mesmo, pelo seu próprio bem, todavia, tal crescimento é privilégio dos humildes de espírito e que possuem amor no coração. De outra forma, qualquer esperança de mudança por parte de quem é duro, implica em perda de tempo e aumento de sofrimento daquele que, triste, espera alguma mudança do outro.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo/RS, 20 de outubro de 2008.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Ciúmes e desconfiança

Ciúmes e desconfiança

Tão necessária quanto a coragem e a perseverança para o homem enfrentar a vida, é a confiança para o homem viver um amor. Nenhuma relação se mantém sem que exista confiança entre o casal.
As pessoas confundem ciúmes com desconfiança. Todo desconfiado sente ciúme, mas nem toda "ceninha" de ciúmes é inquinada por desconfiança. Um pouco de ciúmes, é normal, todo ser que ama sente um pouquinho, que pode ser um tanto saudável.
O problema não é o ciúme eventual, mas sim as atitudes de quem diz que ama, mas não confia no outro. Não confia nas amizades que o outro tem, na postura profissional do outro, nas afirmativas que ele faz de onde esta, esteve, foi, com quem esta ou esteve, e sobre o que faz ou fez em determinado período.
A desconfiança é uma praga que mata o amor, ou, ao menos, que torna o convívio insuportável, a relação caótica, catastrófica. A desconfiança ofende, magoa, avilta a alma, fere o coração, os sentimentos, o equilíbrio mais de quem é vitima do que de quem a sente. Relação sem respeito não se mantém, e a desconfiança é o mais sérios dos desrespeitos dentro de uma relação.
Quem desconfia inferniza a própria vida e a do outro, não tem paz, tranqüilidade e faz da relação um berço de desarmonia, demonstrando falta de confiança e apreço, primeiramente, por si mesmo. A confiança é uma prova de amor, acreditar no outro, em suas palavras, gestos e afirmações são demonstrações de carinho inestimáveis.
Ciúmes? Aquela sensação ruim de ver o amado conversando com outra, falando bem de ex-namorada ou admirando a conhecida bonitona é normal, mas daí a desconfiar do que ele afirma pela sua forma, quiçá inocente de agir, questionar, enfim, sua lealdade é algo ofensivo e desrespeitoso.
Um pouquinho de ciúme é perdoável, aceitável em certa medida, desde que no final prevaleça a confiança. Na verdade a confiança deve basear a relação, é ela que sustenta o amor. Onde reina a desconfiança o amor esmorece, e nasce o desgosto.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 20 de outubro de 2008
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sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Perigosa diferença

Perigosa diferença

As pessoas se acostumam com a vida que levam, e, muitas vezes, se bitolam no hábito sem saírem dele, sem conseguirem mudar a forma de ver a vida, enfim. Afinal, a forma com que o homem vive reflete seus pensamentos sobre o mundo, sobre o que é felicidade e sobre o que pensa e deseja da vida. A maioria das pessoas, depois de certo tempo, vive pelo hábito, e com base nele.
Depois de acostumar a ser só, por exemplo, nem o homem, nem a mulher, consegue visualizar a constituição de uma família, não assimila o conceito de ser pai, de ser mãe, de gerir afetiva ou financeiramente um lar. Se acostumou a levar a vida com extrema liberdade, a fazer tudo na hora que quer, nos dias que quer e com quem deseja? Provavelmente vai passar a vida sem se acostumar a viver de forma diferente.
"Ah, mas a pessoa pode mudar". Claro, até mesmo criminosos contumazes podem mudar. Desde que queiram, desde que reconheçam que estão levando um estilo de vida que os distancia de certos valores e sentimentos, ou em desacordo com a idade e maturidade que deveriam ter. Mas, cada um tem seu tempo, o que muitos aprendem aos 20, 30 anos, outros irão aprender com 60, e muitos jamais aprenderão. Questão de opção, de livre arbítrio.
Existem pessoas habituadas a viverem sozinhas, outras habituadas a terem parceiros, que gostam de viver a dois, outros que curtem viverem sós, apregoando o valor da "liberdade" e se sentem "presos" na menor ingerência do outro em suas rotinas milimetricamente calculadas, há os que valorizam a companhia de poucos e bons amigos, os que estimam a de muitos, de muitas turmas. Cada um na sua, todavia pessoas com hábitos de viver diferentes não se acertam bem e não conseguem ser felizes juntas porque todo relacionamento requer similitude de pensamento, sonhos, planos e anseios comuns.
Uma pessoa que deseja ter uma família, um lar harmonioso, jamais será feliz com quem quer viver apenas para si, curtindo a vida sempre com liberdade, com companhia do sexo oposto apenas quando deseja, porque as formas de pensar e de ver a vida inerentes ao estilo que a pessoa tem de vive-lá são a base de sua personalidade, demonstram a sua cultura.
Quem quer um lar, uma família, uma união, valoriza princípios que o outro, o "eterno livre" não estima, como parceria, cumplicidade, união e, com ela superação de dificuldades em "a dois", enquanto o outro estima o individualismo, a resolução pessoal de problemas e a "curtição" da vida sozinho, para fazer o que deseja no momento que deseja. Algumas diferenças são superáveis, mas a diferença na forma de ver o mundo e os relacionamentos sem que exista forte vontade de mudança e adaptação é, via de regra, insuperável. Insuportável.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 16 de outubro de 2008
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segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Amores dominicais

Amores dominicais

Que tipo de relacionamento você deseja? O anseio do ser humano tem muito haver com a fase da vida e de maturidade que ele tem, bem como com o que aprendeu com os relacionamentos vividos.
Tem gente que acha que namorar a distância é uma maravilha: “Não tem brigas, quando o casal se encontra são só bons papos, boas situações”. Tem gente que nem namorar quer: Quer ter todos, sem ser de ninguém, dormir com muitos e acordar sem nenhum.
Questão de personalidade, de sentimentos, de maturidade, de experiência. Por outro lado, tem gente que curte o bom e o mau do relacionamento. Amor só para horas boas é e sempre será uma ilusão, não é a toa que os padres falam: “Na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza”.
Logo, namoro de final de semana, namoro a distância, namoro de pouco convívio se baseia em ilusão que termina após alguns meses de convívio direto, em que a gente tem que respeitar o mau humor, a euforia, a tristeza ou qualquer estado de espírito do outro. Não que a gente goste, a gente respeita e o respeito é o maior sinal de amor que existe.
Nada contra namoros à distância, obviamente não. O amor ultrapassa oceanos. Mas, o amor tem que ser apesar da distância e sempre com a vontade de encurtá-la, ela não pode ser pretexto para se evitar o dia-a-dia, mas sim, por coincidência do destino que uniu pessoas de cidades, Estados ou (até mesmo) Países diferentes.
Cada um na sua fase. Tem gente que casa, descasa e nunca mais quer casar. Tem gente que namora e nunca mais quer saber de compromisso. Tem de tudo neste mundo. Pessoalmente acho que o bom é se divertir levando a vida a sério, amando com seriedade, curtindo o amor, curtindo a dor, a fossa, a ressaca, a depre, juntos, respeitando o outro, no dia a dia, nos bons e nos maus momentos, enfim.
As pessoas casam pensando na separação, passaram a acreditar que precisam estar sempre “bem” para manter uma relação. Conheço muitas relações que sobreviveram a crises financeiras, a problemas homéricos, pelo amor, pelo respeito entre o casal, pelo carinho e pela vontade de ambos em ficar junto. Mas, quem casa pensando no fim, tem essa vontade? Duvido.
Amor só pra hora boa? Relacionamento só de final de semana? Amor de “tudo bem, tudo bom”, a gente beija, a gente come, a gente transa, a gente dorme? Isso é bom para os adolescentes, que não deveriam pensar em se casar cedo. Adulto tem que aprender a viver, a conviver com quem ama, nas horas boas, nas horas ruins, porque o amor adulto se prova no dia a dia, não é amor dominical, ou é de verdade e enfrenta as mazelas e as benesses da vida a dois, ou é amor de ilusão.
Dizem que relacionamentos à distância duram mais. Pode ser. Dizem que é maravilhoso curtir somente as horas boas, sem discussão, contas a pagar, comida feita às pressas pra comer. Pode ser, também. Para alguns o que importa é a duração da relação, para outros é sua intensidade. E intenso mesmo é o amor que se concretiza apesar dos pesares da vida a dois, apesar da rotina.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 13 de outubro de 2008.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A perda da Beth

A perda da Beth

Poucas relações são tão puras como a estabelecida entre o homem e o animal. Aquele bichinho que não fala, não diz nada que agrade ou magoe, manifesta no olhar, no gesto, na demonstração de apego ao dono um sentimento que enternece seu coração e alegra sua alma.
O animal não cobra nada, gosta com desprendimento, sem interesses escusos, não julga o dono, não critica, não é estúpido, não xinga quando não deve, não descarrega seus problemas nos outros bichos ou no dono que, pode até fazer isso com ele e será perdoado. Quem já viveu bastante, ou, ao menos, quem teve contato com muitas pessoas aprende a estimar e amar os animais.
Mais amados são os bichinhos que a gente chama de "nossos". Aqueles com os quais conversamos, apertamos, amassamos, damos comida, carinho, e recebemos seus atos irracionais mas de intensa demonstração de apreço em recompensa. Eles não pensam? Não, mas muitas vezes seu instinto é mais benévolo do que o de muita gente que diz que pensa e age como animais, mas não domésticos ou de estimação, e sim como os brutos, os selvagens.
Nunca perdi nenhuma pessoa próxima, mas ontem perdi a Beth, minha gatinha persa que morava há dez meses em Marau. Beth, uma gata linda, calma, que pouco miava, tinha uma boquinha cor de rosa capaz de fazer qualquer gatinho deseja-lá. A "bebê" (era chamada assim por mim e pelo co-dono dela) foi namorar pela primeira vez há poucos dias e estava prenha de um gato persa branco, não tão lindo quanto ela, lógico, afinal donos de bichos os chamam de "filhos" e nenhum filho é tão lindo quanto os da gente.
Uma camionete atropelou ela. O dono do carro estava correndo numa rua onde não poderia andar em alta velocidade, passou por cima, fez de conta que não viu e causou dor a muita gente que amava a Beth e sua meiguice magnífica. Seres humanos são assim: Vêem e fazem de conta que não viram, pisam, maltratam, dão o tapa e escondem a mão, não têm vergonha de errar, mas odeiam assumir os erros, magoam sem piedade e tentam justificar seus atos. A racionalidade é usada para justificar crueldades e imprudência.
Eu perdi uma gata, enquanto mães estão perdendo filhos por atos de pseudoracionais, e isso me faz lastimar mais a morte dela que, certamente, valia, para mim, mais do que muita gente que conheço e que existe por este mundo afora, ferindo os outros, maculando a paz alheia, sendo impiedosa e cruel, dizendo que é gente. "Gente boa", o que é pior.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 10 de outubro de 2008.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Amor e relacionamento

Amor e relacionamento

Certo é que um relacionamento a dois precisa de muito mais do que amor para dar certo. Quem já viveu ou vive com alguém enfrentando os percalços diários sabe que é preciso muito mais do que este nobre sentimento para a relação se manter, ser legal, enfim, fluir bem e não findar rapidamente.
É preciso paciência, é preciso muito e sempre, excessivo respeito, o ato constante de “colocar-se no lugar do outro”, carinho, compreensão, confiança, jogo de cintura, bom humor, e, sempre, a vontade de ficar junto, de fazer dar certo, de enfrentar as adversidades em prol da união, de um futuro legal e ainda mais harmônico com quem se ama.
Por mais certo que seja que um relacionamento precisa de uma série de quesitos além do amor para dar certo, é igualmente certo que sem amor nada flui. Sem amor a gente não tem porque ser paciente, sem amor a gente não tem ânimo para evoluir, para mudar, para perdoar, para tentar novamente, para superar o que é preciso (porque os relacionamentos adultos sempre exigem alguma superação).
Amor a gente não força, no coração a gente não manda. Tem quem privilegie coisas materiais, tem quem force algo em prol de dinheiro e status, existem os interesseiros, infelizmente. Mas pessoas puras querem amar, amar sem porque, amar sem interesse, amar sem justificar, amar por amar.
A gente não escolhe quem vai amar, ou porque vai amar, na verdade a gente pode até tentar justificar porque ama alguém, mas a força inexplicável deste sentimento nos faz gaguejar. Podemos enlouquecer tentando justificar o amor que sentimos por alguém e jamais conseguiremos.
Logo, pode ser que o amor não seja suficiente para manter uma união, ele realmente não é, mas sem ele, não existe sequer motivos para se tentar conviver e ter um relacionamento com alguém. O amor não basta para fazer a relação dar certo, mas sem ele não existe porque existir uma relação, ele não é suficiente para fazer uma união fluir bem, mas sem ele nenhuma união nasce.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 08 de outubro de 2008.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Julgar

Julgar


Julgar é uma tarefa um tanto quanto difícil. Julgar pessoas deveria ser impossível, todavia, embora de fato seja, deveria ser algo impossível de gerar no homem a vontade que ele tanto possui de criticar o outro de forma tão rígida e pouco compreensiva.
Tendemos a julgar os erros e os defeitos alheios com grande rigidez, sem, pois, nos colocarmos no lugar do outro de forma realmente humana, ou seja, percebendo que, como nós, o outro também tem suas fraquezas, suas carências.Toda pessoa tem algo que lhe afeta, que lhe desconcerta. Nem todos reagem da mesma forma diante dos problemas, mas,muitas vezes, mesmo agindo de forma semelhante, todavia cada um com a sua realidade, tendemos a ver no agir do outro maior reprovabilidade e traços criticáveis do que no nosso.
Muitas vezes queremos ou precisamos para nos sentir mais fortes atestar a inferioridade do outro. É uma forma vil de superar frustrações, por exemplo. Vil, muito vil, mas humana. Duvido ser humano neste mundo que numa ou outra situação não tenha superdimensionado os defeitos e fraquezas alheias por desprezo, de forma quase involuntária ou para se auto enaltecer, para se tranqüilizar em relação a alguma decisão, a algum problema.
O tempo passa e a vida ensina, sendo através de nossos próprios problemas, de nossas dificuldades pessoais, através de mea culpa, através da análise de nossa própria vileza, de nossa ira ou revolta com um ou outro motivo que passamos a compreender melhor o outro e a sua revolta, a sua ira e os seus atos vis, que outrora podemos ter criticado. Ou seja, paramos de julgar e analisar o outro na medida em que julgamos e analisamos a nós mesmos.
Ora, mas é errado sentir ódio, nutrir revolta. É errado ter mágoa, é errado renegar pessoas e parentes, é errado isso, é errado aquilo. Pode ser que seja, mas a única pessoa que era extremamente certa para nos dizer o que é certo ou errado (porque acima do erro) morreu crucificada (é o que nos conta a história). Ser humano não justifica ser demasiado errante, mas explica, porque perfeitos, porque ser "acima de qualquer suspeita" ou vileza ninguém é neste mundo.
Pode ser que uma pessoa não cometa estes erros, mas comete aqueles, comete outros. E a vida esta cheia deles: O pecado, o erro, rondam a vida humana, e ser humano que se preze sempre comete um. Os que não cometem e julgam quem os faz, estão, no exato momento em que apontam a falha alheia, errando, por se acharem melhores do que são, melhores do que o outro.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 07 de outubro de 2008.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A opinião de quem nos importa.

A opinião de quem nos importa.

Com quem você se importa na vida? Pode parecer uma pergunta tola, mas é a resposta dada a ela que define nosso bem estar nesta existência. Querer agradar a todos, dar ouvidos as opiniões alheias, se incomodar com as idéias que as demais pessoas possuem e o que falam da gente pode ser nosso maior erro,do contrário, quando ouvimos e nos importamos com quem merece.
Mas, afinal, quem merece que ouçamos suas opiniões e a idéia que faz de nós? Quem, por não possuir nenhuma espécie de interesse nos estima, nos valoriza e nos respeita. O homem também é o que os outros pensam dele. Não podemos fugir desta realidade, afinal tendemos a ser juizes benevolentes conosco, e algozes julgadores da vida alheia, porém, é inegável que existe um pouco de razão no que os outros pensam de nós e que, muitas vezes, olvidamos por orgulho.
A questão é que não podemos nos tornar escravos da opinião alheia, devemos, isto sim, escolher quem tem importância em nossa vida, quem realmente nos ama, se importa conosco para, assim, podermos lhes dar ouvidos e, quiçá, crescer um pouco mais ouvindo opiniões sinceras abstidas de inveja, recalques ou pretensões vãs.
Quanto mais madura é a pessoa menor será o círculo de pessoas com as quais ela realmente se importa e confia na vida.Ora, mas que idéia negativa? Não acho. A vida ensina, e demonstra que ser realista às vezes pode parecer ser negativista, mas não é. Quando jovens temos mil parceiros: Parceiros do clube, da academia, parceiros para sair em baladas have, parceiros para festas mais convencionais, para shopping, para jantas, "grupinhos aqui", "grupinhos acolá", um casinho amoroso em cada ponto da cidade. Amigos de verdade? Estes desde a infância são raros. Amor? Mais raro ainda. Quando imaturos nos importamos um pouco com a opinião de todos, queremos "fazer bonito" com todos os "parceiros".
Com o passar do tempo a gente se torna mais independente, até mesmo as formas de diversão vão sendo melhor selecionadas, mais ainda as parcerias e amizades que passam, então, a ser melhor distinguidas. A gente quer alguns amigos leais (às vezes temos apenas um), um amor pra chamar de nosso, com o tempo, filhos, uma família na qual não seremos mais membros e sim chefes, gestores responsáveis. E é assim que vamos nos importando mais com quem nos ama e com quem amamos. O resto? Se tornam detalhes que, via de regra, adoram criticar, tripudiar e viver como expectadores da vida alheia. Importância dada e merecida por eles? Zero.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 02 de outubro de 2008.

O amor e a conquista

O amor e a conquista

A vida é um desafio e quase todas as pessoas gostam de desafios, se não deles especificamente certo é que para todos maior é a satisfação quanto maior for a superação para te-lá. Todavia, na vida pessoal gostar de riscos, obstáculos, desafios, ter, enfim, o difícil e o imprevisível como apetecível, pode ser perigoso.
Conheço vários homens e mulheres que gostam do que é difícil. Até ai tudo bem, em especial num mundo em que conseguir companhia apenas para momentos de prazer é tão fácil. O problema é que se essa tendência for séria, a pessoa se esforça, conquista e logo acaba perdendo o amor da pessoa desejada, admita ou não, por sua própria culpa.
No amor todos se tornam óbvios: Quem ama dá carinho, quem ama cuida, quem ama se preocupa, quem ama estende a mão, quem ama zela, quem ama sente um pouco de ciúmes, quem ama, enfim, de uma forma ou outra (mas todas boas) demonstra o seu amor. Sim, e daí? Dai que meus amigos que gostam do "difícil", conquistam o amor de alguém e colocam tudo a perder, porque depois de conquistado e apaixonado, ninguém é difícil ou demasiado complicado, então eles passam a não dar a devida atenção àquele cujo coração lutaram para "amolecer".
Eis que, para a conquista se pode até preferir seres de restrito ou difícil acesso, mas o certo é que após ela, qualquer pessoa que ame precisa ser conquistada diariamente com gestos singelos, mas que, no mínimo, demonstrem carinho, afeto, amor. E é nesse quesito que meus amigos que gostam de conquistas difíceis se perdem e acabam sofrendo: Batalham, conquistam e depois perdem o interesse, justo quando o outro se apaixonou. E após a perda o que ocorre? Sofrem, vendo que erraram não valorizando quem lhes dava valor, quando lhes dava.
A maturidade ensina ao homem que o amor é o principal fator de descomplicação da vida. Casais que se amam tentam se entender, dialogar, se ajustar. Da mesma forma, a vida ensina que a gente deve gostar e valorizar quem nos gosta e estima, e que a maior conquista que podemos fazer é cativar diariamente o amor de uma só pessoa quando ela já esta simples e "fácil" por nos querer bem. A conquista frívola de conquistar o encanto de alguém estranho não é difícil, mas conquistar todos os dias alguém que já esta encantado, ou seja, manter uma conquista, é tarefa para pessoas maduras e bem resolvidas. É tarefa para poucos.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 02 de outubro de 2008.