Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

terça-feira, 26 de junho de 2007

Espaço de esperança

Espaço de esperança


Vejo que minha vida reside num pequeno espaço entre a realidade bem quista ou desprezada, e entre o que eu imagino, entre o que eu gostaria que ela fosse. Talvez o espaço que meu mundo ocupe entre essas duas existências não seja tão pequeno, eu é que, às vezes, me sinto esmagada pela realidade das circunstâncias, pela "vida como ela é" e as pessoas "como elas são".
É inevitável olhar para o mundo e se sentir um tanto perdido de vez enquanto: Onde esta a harmonia, a sinceridade?Onde foi parar a lealdade, a fidelidade e o respeito mútuo nos relacionamentos amorosos? Para onde foi a probidade dos políticos, quando foi mesmo que a Justiça deu um tapa na cara do Judiciário e fugiu com uma mala de dinheiro para a Suíça?
Em que estrada nas curvas dessa vida o real sentido do amor cedeu lugar à ode a fugacidade, onde ninguém valoriza ninguém ao menos que seja por ele beneficiado? Quando foi que a educação deu lugar à grosseria? Porque a auto-estima saiu com seu carro simplório (mas pago) e deu sua vaga no estacionamento ao "convencimento barato" que ostenta mais valores e auto-valor do que possui?
Todos temos dias em que padecemos do que chamo de "Complexo de Alice" (Cadê as maravilhas neste mundo?), mas ele passa, ou melhor, ele dá uma dormidinha dentro de nós porque se deixarmos ele acordado diariamente nos tornaremos pessoas chatas. Quem reclama demais é chato, quem questiona demais, igualmente. E como, no fundo, abominamos a solidão recolhemos nosso complexo e fazemos ele nanar, se ele não quiser damos um calmantezinho para o coitado repousar em paz na nossa alma inquieta.
Todavia, não tenho medo de ser chata comigo mesma. Não me conformo e nunca me conformarei com muitas coisas. Prefiro gente que reclama do que gente que se conforma, cruza os braços e vai ver novela. Portanto, apesar de não ser a Alice eu cultivo em meu coração um espaço. Parece nome de "nova igreja" (existem tantas hoje em dia, o que comprova a carência humana de algo supra-material, sobre-humano, porque essa vida de gente é muito "defeituosa"), mas não é, este lugarzinho se chama espaço da esperança.
Nele eu guardo a esperança de que, ao menos em minha vida, o que eu puder farei diferente, viverei de forma diferente. Farei o que acho correto, viverei como acho justo. Sem fazer aos outros o que não desejo para mim. Uma vida baseada na sinceridade, na honestidade, na lealdade e na fidelidade. Se o amor disse "tchau", se a paixão, ou o tesão foram embora, é melhor findar a relação.
Sempre: melhor findar do que trair. Não me conformo com a traição em aspecto algum, com a forma "natural" com que as pessoas falam dela, por exemplo, como se o outro não fosse nada, como se não fosse sentir, se magoar e se ferir. Este é apenas um exemplo. Trago no peito a fé no amor, embora a descrença total no casamento como forma de união e caminho para o "pra sempre", que, sempre acaba.
Ou não?Nos espaço de minha esperança o para sempre não finda, mas também não precisa de assinatura, testemunhas, juiz de paz e padre para atestar nada. O amor é vivido cada dia como se fosse o último sem que se precise "oficializar" nada. Este "ofício" gera uma espécie de "segurança negativa" na maioria das pessoas, que, a partir dele "mudam" como se tivessem adquirido o outro (para sempre, diga-se). E isso é uma praga na plantação de um amor que se deseja, dure para sempre.
Enfim, ainda acho que na minha vida o que depender de mim será feito de forma diversa. Talvez eu ainda tenha a inocência de que posso fazer diferente ou a prepotência de que poderei estar imune há algumas mazelas. Talvez, mas eu acho que ainda mantenho um certo romantismo calejado em meu coração. Para todos os efeitos, sobra fé no espaço de minha esperança, que reside num cantinho da minha alma.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 26 de junho de 2007.

Programa televisivo chinelo

Programa televisivo chinelo

Não acho que a vida deva ser levada demasiadamente "a sério", acho que rir, fazer piada dos próprios infortúnios tem a sua utilidade, a sua graça. Quem não brinca, não se descontrai, não relaxa e não fala umas asneiras de vez enquanto esta fadado a adoecer. Brincar, tentar manter o humor apesar das intempéries diárias é um ato de inteligência e coragem (esta, tendo em vista a realidade em que vivemos) que vale a pena ter.
Todavia, acho que quando se trata de assuntos importantes e que requerem seriedade no trato fazer piadas, ou, simplesmente comentários inúteis é de extremo mal gosto. Exemplo disso foi a enquete feita pelo programa Fantástico sobre a conveniência ou não do uso de chinelos após ter noticiado o cancelamento de uma audiência pelo juiz da 3ª Vara do Trabalho de Cascavel no último dia 13 porque o Reclamante estava assim calçado.
Sempre vale o brocardo "cada caso é um caso". Logicamente que é deselegante uma pessoa abonada entrar calçando chinelos em um baile da alta classe, por exemplo. Bem ou mal, existem regras de etiqueta que devem ser observadas, em especial por aqueles cujo status ou vontade de te-lo os deixam à mercê das convenções sociais.
É muito diferente o caso do cidadão de Cascavel dos demonstrados no programa mencionado. A discussão, a enquete em si, se mostrou horrenda, de extremo mal gosto e tola. O caso ocorrido no Paraná demonstra o cúmulo da prepotência de um juiz cuja arrogância e ignorância de espírito o levaram à beira da bestialidade psíquica fazendo com que agisse de forma a ofender aos direitos fundamentais do cidadão e a classe de seus colegas.
Na verdade o agir do juiz federal paranaense é lastimável, e a enquete do Fantástico também. Tudo na vida deve ser analisado dentro da realidade em que ocorre, dentro das circunstâncias reais, portanto. Uma pessoa humilde, simples e sem condições financeiras não pode ter seu direito ao acesso à Justiça cerceado pelos caprichos de um juiz insano que, aparentemente, agiu graças a embriagues causada por sua própria arrogância.
Um caso sério jamais poderia render comentários e correlações tão estúpidas apenas para preencher tempo num programa dominical cuja qualidade decai constantemente. A população brasileira mais culta se ofende (ou deveria se ofender) com tais menções e as pessoas com menos grau de instrução deveriam sentir-se mal porque, aparentemente, estão sendo feitas de boba. Usando o termo popular o Fantástico esta um chinelo de programa: ruim, sem graça, de quinta categoria.
Cada caso é um caso, e, certamente o caso dos programas dominicais, desde os mais divertidos até o que deveria ser mais coerente está sério. Muito sério de tanto faltar seriedade, lógica, inteligência e coerência nas suas realizações. Espero, porém que não seja adequado dizer que "cada povo tem o programa televisivo que merece". Me sinto ofendida em pensar nisso, mas será que não é a verdade?

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 25 de junho de 2007.

Os relacionamentos e as massinhas de modelar

Os relacionamentos e as massinhas de modelar

Os relacionamentos humanos não dependem de encaixe, pelo contrário, dependem da capacidade humana de adaptação, de "modelagem", deve o homem ser como as massinhas de modelar que as crianças usam e não como peças de um quebra-cabeças que fazem (ou melhor, esperam) uma junção perfeita, ou como aqueles joguinhos em que as pecinhas se encaixam perfeitamente para formar determinada imagem.
Quem espera encontrar o homem ou a mulher perfeitos, cujo convívio será sempre harmônico, cheio de humor e alegrias, sem inconveniente algum, sem discordâncias, sem mal entendidos, sem nada de "imperfeito" espera algo que jamais poderá ocorrer. Não existem seres "feitos um para o outro", existem pessoas com personalidades, gênios, formas de pensar e de ver o mundo semelhantes, mas jamais iguais em tudo. Se assim fosse o convívio humano seria mais entediante do que domingo chuvoso na praia, mais insosso do que sopa de hospital feita para hipertenso.
Todavia, muito embora existentes as afinidades o "se relacionar" exige a capacidade de se modelar, de ser complacente, de ceder muitas vezes, de se "adaptar" e entender a si mesmo e ao outro porque cada pessoa tem uma história, uma criação e, lá no fundo, uma maneira pessoal de analisar a vida. Não existem iguais.
O segredo das boas relações esta no uso da maturidade e da inteligência, bem como na capacidade de interação, de diálogo. Um homem maduro é paciente, compreensivo, ciente do que deseja, mas convicto que, nem ele, nem aquele com qual convive é perfeito, muito menos que ambos sejam "perfeitos um para o outro".
Enfim, se são as mãos das crianças que moldam figuras com a massinha é a maturidade e o diálogo que fazem com que as pessoas se adaptem e se compreendam nas relações que estabelecem. Não existe "encaixe" perfeito - o encaixe se cria através do dia a dia, através do trabalho psíquico de compreender, de abdicar, de entender o outro e as diferenças existentes. É um encaixe maleado, criado e não perfeito.
Afinidade, pois é apenas o primeiro passo em qualquer relação, afinal existe a necessidade constante da realização de muitos outros que requerem, sem dúvida, o desvio de mais pedras e a caminhada por terrenos mais tortuosos do que o existente embaixo do primeiro. Se relacionar é mais do que algo prazeroso, é uma necessidade humana - é convivendo, dialogando, interagindo, compreendendo e sendo compreendido que o homem cresce e evolui.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 25 de junho de 2007.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Ausência de amigos

Ausência de amigos

Estava pensando em algumas pessoas que conheço, coincidentemente da mesma família. Pessoas de "poucas amizades", não por serem antipáticas no trato, mas porque, no fundo não gostam de se tornar íntimas, de conversar com os outros sobre assuntos que não sejam a respeito de banalidades. Existem pessoas que estabelecem relações superficiais, que não "gostam" de ter amizades, por vários motivos, alguns, obviamente mais vis que outros.
Meu pai sempre disse que "amigos de verdade não existem", dizia que existem, apenas "boas parcerias", porque há, sempre, uma competição latente, que a inveja permeia as relações humanas de forma que nunca um homem desejará ver seu amigo mais feliz em sua vida afetiva e financeira do que ele.
Esta era a idéia de meu pai pelas experiências que teve. Para ele apenas uma mulher pode amar um homem e querer seu bem, e nossos pais que, muitas vezes nos irritam por desejar para nós um "bem" diverso do que almejamos, mas que, apesar disso, nos amam sempre. Do seu modo, mas amam. Ele tinha razão, mas de forma parcial.
O ser humano não é feito apenas de pele, ossos, músculos, gordura e sangue, é feito de experiências, de idéias e ideais. O homem é o que ele pensa. Mas os seres inteligentes mudam de idéias, mudam de pensamentos, logo, como Raul Seixas, as pessoas que sabem usar sua razão e emoção de forma adequada são "metamorfoses ambulantes". A vida ensina uma nova lição a cada dia, não há como ficar estagnado. Apenas os ignorantes acham que sabem tudo e que não têm nada para mudar.
Bem, e os "amigos" (assunto do texto) onde estão? Para mim na seguinte realidade - como todos seres humanos aqueles que escolhemos para chamar de amigos são imperfeitos, sujeitos à paixões, dias de mau humor, dias de humor "bipolar", estão sujeitos à frustrações no amor, embaraços financeiros, mas, não é por isso que deixam de nos amar, de nos admirar e gostar de nós, aceitando-nos como somos.
Lembro de ter ouvido de um marido apaixonado a confissão de quem em certos dias tinha vontade de "esganar" a mulher. Ele a amava e respeitava, nunca vi relacionamento tão bom. Mas o fato de uma relação ser boa não significa que esteja isenta de discussões, de diferenças, de brigas, de incômodos, não significa, pois que num dia de mau humor um não tenha vontade de atirar o outro pela janela. C´est la vie. A regra na existência humana é a imperfeição, afinal o homem não é perfeito, não é um Deus ou um anjo.
A tarefa é relevar, é ser superior as mazelas, é, mesmo sendo, ser superior as imperfeições: amando e perdoando, superando mágoas, superando a própria ausência de perfeição e a alheia com a consciência de que não é por errar que as pessoas deixam de ter valor e de nos dar valor. Não podemos cobrar do mundo o que não podemos lhe dar: Exemplos de plenas virtudes, afinal podemos ser virtuosos, mas não impassíveis de erros.
Meu filósofo preferido, Nietzsche, disse: "A falta de amigos faz pensar em inveja ou presunção. Há pessoas que devem seus amigos à feliz circunstância de não ter motivo para a inveja." Pois bem, creio que dependa do "grau" da inveja. Uma invejazinha surgida porque o amigo esta melhor financeiramente, porque tem uma esposa linda e carinhosa quando se esta sozinho e frustrado não é uma aberração, logicamente não é belo ou correto - pessoas felizes e de bem consigo não invejam, se aceitam e lutam suas vidas com a cabeça erguida e a auto-estima em alta.
Todavia existem aqueles que vivem se sentindo inferiores mas que não querem transparecer de forma que, logo que iniciam uma amizade, começam a criticar, a realçar os "pontos fracos" do possível amigo, ou, simplesmente, aqueles que se acham superiores, que presumem que suas vidas e atos são mais dignos, justos e corretos do que o dos demais. Ambos são pessoas que não sabem amar, em especial pelo fato de nem a si mesmos amarem.
Ambos os "tipos" estão fadados à solidão, a não terem amigos. São como aquelas pessoas, daquela família em que eu pensava, que se acham mais corretos do que o mundo sem perceberem que a vida bem gozada é a vivida pelos sábios. E estes são aqueles que sabem quão imperfeitos são, logo, vivem cientes de que não podem exigir o que não possuem.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 21 de junho de 2007.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Os nossos espinhos

Os nossos espinhos

Todos nós temos nossos recalques, nossos "trauminhas", aquelas lembranças, gestos ou atos de nossa realidade presente ou passada que nos incomoda, nos causa ansiedade, ou uma espécie de brabeza. Não gostamos de ter feito algo, de sermos desta ou daquela forma, nos sentimos inferiores, tristes ou magoados, e, por um motivo não muito lógico não gostamos de "ouvir" o que nos faça lembrar do tal recalque.
Não uso esta palavra com a conotação dada pela psicanálise, mas pelo significado popularmente conhecido dela. Não é anormal ter algum recalque, mas, como tudo que atrapalha nossa paz de espírito e felicidade, é algo que devemos aprender a superar pena de nos melindrarmos injustamente e, ainda, de magoarmos quem não nos quis ou desejou ofender.
Existe uma frase de Aristóteles mais do que perfeita e adequada para a realidade humana, é a seguinte: "Qualquer um pode zangar-se e isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa, não é fácil". E ser sábio, ou seja, ser auto-controlado e paciente não são tarefas fáceis e justamente por isso são tão necessárias para nossa harmonia pessoal e, logicamente, social.
A pessoa que conquista o auto-equilíbrio se torna, sem dúvida uma pessoa mais leve, mais feliz, enfim, mais "fácil" de viver e encarar a vida. Viver não é difícil, conviver também não, sequer superar o outro é difícil, duro mesmo é superar a si mesmo, nossas fraquezas e recalques, aos obstáculos que nós mesmos nos colocamos sem perceber e que barram nossos relacionamentos e nos impedem de estabelecer um convívio harmônico, tranqüilo e prazeroso com as pessoas.
Sempre digo que é possível ver que uma pessoa esta (ainda mais) "fora" de sua racionalidade, ou, enfim de seu equilibrio pessoal, quando precisamos nos conter para dialogar com ela. "Não fale tal coisa na frente do fulano que ele se ofende", "Não dá para falar nisso com ela que muda seu humor". Ninguém nesse mundo atribulado é "obrigado" a viver pensando no que vai ferir ou não o outro se o "assunto" em questão é algo normal e não uma ofensa direcionada.
Obviamente é preciso ter empatia, saber perceber o que magoa e quando as pessoas com quem convivemos estão magoadas, mas dai há existir a premente necessidade de "nunca" tocar em determinado assunto na frente de alguém significa apenas uma coisa: Esta pessoa criou para sua vida um problema que poderia ser inexistente se ela superasse a forma com que encara tal fato ou realidade, que, na verdade, é problemática apenas em sua mente.
É o que disse o sábio Aristóteles, aliás todos precisamos aprender a superar nossos "recalques" para que não nos ofendamos pelo motivo errado (ou, ao menos, tolo), com a pessoa errada, da forma errada e no momento errado. Muitos dos problemas que criamos não vêm de fora para nós, não são espadas que os outros nos cravam, mas apenas espinhos que colocamos em nosso coração e sentimos arranhar quando ouvimos algo que não queremos ou não gostamos.
Todavia, quem os colocou em nosso interior foi nós, e à nós compete a tarefa de retirá-lo posto que a vida requer que retiremos os espinhos e farpas que nós inserimos em nosso coração, afinal não são os outros que nos ferem intencionalmente, ou que nos magoam "sem perceber" é nossa consciência que se retrai e arrasta a farpinha que dói em nosso peito. E este problema, ou melhor, esta "tarefa" é nossa, exclusivamente nossa.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 19 de junho de 2007.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

A dor (da falta) do amor II

A dor (da falta) do amor II

E um amigo, uma pessoa querida, que tive a sorte de conhecer em Porto Alegre por ser pai e esposo de duas queridas colegas de pós-graduação residentes em Florianópolis me indaga: "Onde está o amor? Este do qual há dor? Existe ou existiu? E quando no curso de nossas vidas?". Gostei dos questionamentos, e me disponho a explicar o que é, para mim, "a dor da falta do amor".
Ora, ora, por si só o amor não causa dor. Ele regozija. Camões, em seu Soneto 11, utilizando-se do famoso texto bíblico, descreveu o amor:"Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer;É um não querer mais que bem querer (...)É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata lealdade.Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade,Se tão contrário a si é o mesmo Amor?".
O amor é a força que une os corações humanos. É por amor que a gente abdica de pequenas coisas, é por amor que a gente muda, é por amor que a gente melhora, é por amor que a gente deve (deveríamos) dar a luz a novos seres, é por amor que a gente abre mão do comodismo da solidão, da covardia de não ter que ser complacente, paciente nem arriscar-se a sentir alguma dor, ainda que seja a dor da saudade do amado que partiu rumo à eternidade.
Logicamente, numa relação em que existe amor não é ele a causa dos sofrimentos e das dores. São as fraquezas humanas, o egoísmo, o medo de ceder, o receio de mudar, são as palavras duras, as atitudes impensadas que ferem a ferro um coração enternecido pelo carinho, pela doçura que apenas o amor coloca no coração do homem.
Mais do que amar, é preciso saber se relacionar, é preciso saber que o amor não traz consigo a perfeição. Os homens são imperfeitos, o amor, apenas, os aproxima de Deus, mas não os tornam impassíveis de erros. É por isso que, ao lado do amor, deve estar o respeito aos sentimentos e ao próximo, deve estar a paciência, a ternura, a parceria e o diálogo, do contrário, o amor, ainda que se mantenha na alma do amante, cede lugar a dor, porque às vezes é preferível sentir a falta de alguém do que ser por ele desrespeitado, traído ou magoado.
Não é o amor que causa a dor, são as pessoas e seus gestos inconsequentes. Os seres humanos são errantes. Para algumas dores, obviamente, há perdão. O amor faz com que as pessoas perdoem, desde que, logicamente, a ofensa não tenha sido tal que macule em demasia seu amor próprio. Afinal, acima de qualquer sentimento deve estar o amor do homem por si mesmo, pela sua vida, pelo seu caráter e forma de viver, do contrário, ele poderá sentir "tudo" por outro alguém, menos amor verdadeiro.
Eu sei. Amores acabam mesmo existindo amor. Acabam porque não basta amar, é preciso saber se relacionar, querer ser cúmplice, confiar, dividir, respeitar, dialogar. E isso, muitos que amam não sabem ou, por orgulho não se dispõe a fazer. É preciso ser maduro de coração para se entregar a um amor.Existem tais casos, mas eu prefiro acreditar que, aos poucos, o amor torna o homem mais humilde e o faça evoluir. Eu creio nisso, mas nem sempre é o que ocorre e é por isso que alguns amores acabam em dor, porque mesmo aproximando o homem de Deus, ele não quis ver a sua luz.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 14 de junho de 2007.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

A dor (da falta) do amor

A dor (da falta) do amor

Minha tia diz que a dor do amor é a mais terrível das dores, e ela se diz covarde. E é, pois deixou de querer um relacionamento de tanto que sofreu por um certo alguém em seu passado. Sua covardia é indiscutível, mas suas razões são inolvidáveis. A dor do amor rasga a alma, queima o coração e não mata. Seria bom se matasse, assim, quem sabe inventariam uma cura ou um antídoto contra ela.
A dor do amor não se cura com outro amor. Sei disso na prática. Ela toma outra forma, se reveste de outra cor, mas continua a dor, a latejar, de certa forma ainda mais, porque quem ama sente falta do cheiro, do toque, da voz, da forma de falar, das pernas tortas, do nariz torto, do dente quebrado, do cabelo arrepiado, enfim, daquela "série de algos" que seu parceiro tinha, ou melhor, têm, mas, agora, longe de você. Quem ama sente falta até dos defeitos, do emocionalismo da mulher, da ranzinice, do "beicinho", do ciuminho.
É triste sair com amigos, estar no meio de muitas pessoas, ouvir as mesmas conversas, lamúrias e piadas (que se têm acabam aparentando sem graça) e sentir falta apenas de uma pessoa. É deprimente se sentir sozinho em meio a muitas pessoas pela falta de uma só mão, de um só abraço, de uma só presença, de um só cheiro. Já diria Shakespeare, que o sono é o prelúdio da morte - nos faz esquecer de chorar. De pensar. De lembrar. Mas, obviamente, não cura, não cicatriza.
Quem já amou e sobreviveu a dor imensurável da perda sabe que apenas o tempo a ameniza. É preciso estar com o coração cicatrizado para colocar-lhe no "mercado" da busca por novos amores novamente. Agir de forma diferente é ser imaturo e usar outras pessoas como objetos. Objetos que não vão suprir, realmente, a falta daquele que foi ou que mandamos embora por um motivo ou outro (ação e reação, talvez).
A dor do amor é a mais terrível das dores que um ser humano pode sentir. É uma agonia, uma dor no peito, são as lembranças, a saudade, os planos recônditos que sequer foram explicitados, a fé que se tinha que tudo fosse dar certo. É uma dor que só vale a pena ser enfrentada quando, realmente, é impossível ficar com quem se ama, do contrário há masoquismo explícito.
Adultério. Traição de confiança. Humilhação psíquica. Tudo é muito grave, mas se ainda há amor, é possível pensar. Talvez seja possível superar, lutar. Do contrário, quando emerge o asco, o nojo e a decepção é tanta que seria pior estar ao lado de quem se ama do que padecer a dor de sua falta, sendo preferível a agonia praticamente torturante da dor da falta do amor. Mas, de resto, sempre vale a pena lutar por ele. Sempre.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 13 de junho de 2007.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Mulheres e agrados

Mulheres e agrados

Um bouquet de flores tem o seu valor, ontem à noite vi um amigo com um em mãos para dar cedinho para a namorada e me comovi. O romantismo, a doçura são de imensurável valor numa relação. Jantar a luz de velas, champagne, bombons, uma surpresinha, não existe mulher que não se encante com isso. Dizem os homens de mentalidade mais retrógrada e machista que é difícil agradar uma mulher. Bem, não conheço todas, eu me sinto agradada com respeito, educação e demonstração de carinho, e a maioria das mulheres também.
Na verdade toda mulher quer se sentir valorizada, nem todas, é verdade, são legais, parceiras, humoradas e divertidas, nem todas são compreensivas e pacientes. Ou, até mesmo as que são possuem um dia que o "saco" esta cheio, ou que os hormônios estão falando mais alto do que a razão. Um bom homem, um homem atento a mulher que ama sabe reconhecer estes dias e sabe compreender.
O problema, na verdade, é que a fugacidade de algumas relações, as baladas em excesso, a conquista de "sexo fácil" esta tirando da "raça masculina" esta capacidade de agradar e valorizar as mulheres delicadas, apesar de fortes, batalhadoras, que estudam, trabalham, cuidam da casa, dos filhos, que pensam em construir um futuro próspero, mas, nem por isso, perderam a meiguice e a vontade de serem acarinhadas, beijadas, mimadas.
Na verdade certas mulheres, as mais servis, com menos estima própria, estragaram o bom de certos homens. Homens são educados por mulheres e quando passam a se relacionar afetivamente com uma, continuam a ser por elas instruídos. Logo, mulheres que não souberam expor sua sensibilidade, seus desejos, seus anseios tendo sido demasiado servis (por um motivo ou outro) acabam por "mal acostumando" seus homens que irão, certamente, desaprender ou não-aprender o que deveriam saber a respeito do lado bom da "raça feminina".
Bons homens são aqueles que trabalham, que se dedicam a suas causas e objetivos, são aqueles que valorizam a esposa, parceira ou namorada que possuem. São aqueles que amam do fundo do coração e são sinceros no sentir, no falar e no agir. Da mesma forma assim são as boas mulheres - aquelas que não deixam seus amados carentes. Bons homens e boas mulheres são os que "dão assistência para não abrir concorrência."
Todos deveriam saber que no dia dos namorados ou em qualquer outro dia é preciso abraçar, cuidar da mulher que amam, se realmente sentem tal (raro) sentimento, do contrário, para que ter uma companhia? Boas mulheres são como diamantes - merecem ser valorizadas. Aliás, boas mulheres e bons homens estão em extinção hoje em dia. Mas existem, ainda.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 12 de junho de 2007.

O amor e o dia dos namorados

O amor e o dia dos namorados

Dia dos namorados é uma data especial, uma data de reflexão tanto para os enamorados quanto para aqueles cujo amor esta dando um tempo, ou, simplesmente fez uma viagem só de ida para algum lugar distante e esta esquecendo de voltar. Na verdade esta data só tem graça para os enamorados, ou seja, para aqueles que estão com o coração aquecido pelas boas vibrações do amor, pelo encantamento e por toda a magia que uma boa parceria tem em si.
Esta data me faz pensar, porém, na lei da ação e reação, afinal, não basta pensar na pseudo-perfeição que os românticos imaginam que exista numa relação baseada no amor. Amar, manter um relacionamento, é muito mais uma questão de bom uso da racionalidade e da sensibilidade do que simplesmente o gozo de um sentimento magnífico como o amor. É uma questão de bom-senso e emoção.
É preciso que o namorado ou a namorada compreendam que seus atos irão gerar no outro uma reação, via de regra, proporcional ao ato. Gestos brutos, grosseiros e ríspidos irão magoar, ferir e, conseqüentemente fazer com que o outro tome uma atitude semelhante ou, quiçá, graças ao orgulho ferido, aja de forma mais dura, como numa troca de ofensa e humilhações mútuas em que um tenta ser mais "cruel" que o outro. Ora, mas qual o sentido disso? Nenhum, é apenas um sinal da imperfeição humana, algo infeliz mas extremamente normal, em especial quando a mulher esta com TPM e o homem com problemas financeiros ou profissionais.
Aprender a superar tais circunstâncias é uma dádiva, mas, deixar de causar problemas assim é, isto sim, uma prova de respeito e valorização ao outro. Porque ofender? Porque ser grosseiro com quem se ama? Se é nos braços de seu amado que você encontra atenção, respeito, admiração, olhar terno que, certamente, o mundo não lhe dá, e os amigos também não - neste mundo esta cada um por si, apenas no amor hetero ou homossexual não existe inveja ou competição, pelo contrário, existe conforto e apoio.
Só quem amou e soube se entregar a uma relação legal sabe disso. Conhece o valor de um amor bem vivido, bem curtido, bem gozado. Ação e reação: Ame, dê carinho, dê respeito, dê atenção, dê paciência, calma, compreensão, doçura, dialogue, que do outro lado repercutirá os mesmos gestos, as mesmas palavras ternas. Pelo contrário, falar palavras duras, ainda que sejam sinceras pode ferir e magoar o coração alheio.
Se relacionar afetivamente com alguém implica em saber o seguinte: Existem verdades que não precisam ser ditas. Existem reclamações e sensações cuja abertura se torna desnecessária porque podem ferir, podem machucar. Antes de ser sincero é preciso ser sensível, ter compaixão, parar para se colocar no lugar do outro e perceber, sentir se, no lugar dele, tal afirmativa não iria lhe macular a paz e a alegria.
Não existem muitos mistérios para um bom relacionamento, é preciso apenas, deixar o amor invadir a alma e se desprender dos medos, dos receios, das pré-concepções sexistas (machistas ou feministas), deixar a sensibilidade fluir, parar para pensar nas próprias ações e na repercussão das mesmas bem como, ter certeza de que o amor de quem te ama não se encontra em qualquer esquina, não é dado por nenhuma amiga, cão, gato, papagaio ou parceiro de festa.
Só quem te ama te admira pelo que é, sem invejar, sem recear o teu sucesso. O mundo não se importa muito com você, mas quem te ama sim, então valorize, respeite, pense antes de falar e agir, pena de ficares só no mundo e ter que esperar o amor voltar de um lugar distante. E esta espera é tão árdua quanto difícil, não se encontra em qualquer esquina quem ame você, tampouco você não vai amar qualquer pessoa. Quem conheceu o amor verdadeiro e teve paz nos braços de alguém não se contenta mais com qualquer pseudoamor.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 12 de junho de 2007.

domingo, 10 de junho de 2007

Amor além da vida

Amor além da vida

Outro dia assisti a um filme chamado “Amor Além da Vida”. Chorei do início ao fim do filme. Muito pela sensibilidade aguçada pelos hormônios na fase da TPM, mas, um pouco pela beleza e realidade do amor retratado na trama.
Falo realidade, porque apesar do filme ser fictício, o casal teve celeumas, passou por dificuldades, confessaram terem tido brigas grandiosas, mas o sentimento, a paz existente entre eles constatada em seus olhares e toques fez com que superassem as dificuldades, as agruras, desentendimentos e vários outros acontecimentos infelizes.
Chorei pensando em mim mesma, em como, mesmo tendo visto decepções alheias e tido algumas, não perco a fé na existência deste tipo de sentimento. Intenso, que supera problemas, neste sentimento que acontece entre aqueles que valorizam o outro e suas idéias, que respeitam seus defeitos, e vêem suas boas intenções antes de erguer-lhes pedras para criticá-los (e machuca-los), antes de ignorar seus sentimentos e ferir-lhes.
Quem não quer um amor de verdade? Não falo de sentimento que vem com o tempo: Apenas o apego surge com o tempo, como o hábito e o costume. O amor surge brando, mas arrebata. Faz com que quem ama tenha atitudes que jamais pensava ter. O amor verdadeiro traz a humildade para os orgulhosos, a compaixão para os egoístas e a alegria para os mal humorados. O amor aquece o coração, alenta a alma.
Quem ama sabe que existem coisas substituíveis, mas não pessoas. Ninguém neste mundo tem as qualidades de quem você ama, e é por isso que, enquanto o amor pulsa no coração não se deve desistir dele. Tentar olvidar de sua força é como cavar a própria cova a ser preenchida pela terra escura da amargura e da solidão - ainda que se coloque um outro corpo dormir em sua cama.
Nada é por acaso. Ninguém ama alguém por acaso, e nem deve dele desistir ou tentar substituir por paixões frívolas que, bem ou mal, acabam da mesma forma com que chegaram. Apesar de todas as dores, de todas as frustrações e pesares eu acredito em amores além da vida, além desta existência carnal.
Não se trata de amores de relacionamentos perfeitos, afinal, nada é perfeito e linear nesta vida e é isso que faz com que as pessoas cresçam. Trata-se, isto sim, de amores que superaram as mazelas e os defeitos de seus amantes para se manter e crescer, além do corpo físico. Como sempre, continuo crendo no amor, no amor além das palavras, além da matéria, além das frivolidades e banalidades da existência terrena.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 10 de junho de 2007.

Paciência e diálogo: os temperos da felicidade.

Paciência e diálogo: os temperos da felicidade

Não existem segredos para a felicidade. A felicidade é um “prato feito”, elaborado com a vontade de cada pessoa, todavia ela exige alguns temperos que são imprescindíveis para a realização do tal prato principal desejado por todos.
A gente começa a ser feliz quando decide: “Hoje, apesar de todos os problemas financeiros, apesar das diferenças entre eu e meu companheiro eu serei feliz e irei superar os percalços sem pisar em quem não causou os inconvenientes que lastimo.” Depois desta decisão e de um belo sorriso a vida passa a fluir de forma mais prazerosa.
Por outro lado, não basta a tomada de tal decisão se não há o exercício constante da paciência e do diálogo. A paciência é um antídoto contra pequenas brigas e guerras sentimentais iniciadas por gestos e afirmativas carregadas de ira e desamor, e o diálogo porque é apenas com seu exercício que o ser humano se entende sem brigar e sem ter que jogar na face alheia um excesso de fel.
Não há dificuldades, nem mistérios para se viver um relacionamento feliz desde que a pessoa se desprenda das amarras do orgulho e do medo (inclusive de amar) para ser livre na vivência de um relacionamento bom e pacífico. O diálogo é a chave mestra para a felicidade amorosa e afetiva, sem ele ocorrem brigas e discussões desnecessárias.
Quem ama dá o primeiro passo na direção da evolução pessoal, porque quem sente, verdadeiramente, o amor pulsar no coração não quer perder a companhia e o respeito do outro e, por isso, tende a ceder, a dialogar, do contrário estará dando um passo rumo a infelicidade pessoal. Amar, compreender, transigir, saber ouvir, e, principalmente, ser paciente e dialogar são o segredo para a superação de qualquer crise afetiva.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 10 de junho de 2007.

sábado, 9 de junho de 2007

A intenção recôndita

A intenção recôndita

Tem gente que espera demais dos outros. Espera que deles venha a compreensão pelos seus atos brutos e intolerantes, espera que os outros compreendam seu desejo de liberdade e de gozo da própria vida, porém quando deles se espera paciência e compreensão se encontra um local vazio.
Nos relacionamentos afetivos, por exemplo, é sempre necessária a complacência, a paciência e a análise dos sentimentos por trás das atitudes alheias. Muitas vezes uma pessoa pode agir de forma a nos desagradar pelo fato de estar impulsionada por um sentimento bom, e, mais ainda, com intenções recônditas, porém salutares.
Enfim, conviver é ceder. Amar é compartilhar uma vida atribulada, cheias de altos e baixos com alguém que, sabemos, irá nos compreender e apoiar, pelo simples fato de nos amar e valorizar. Parar para pensar, pois, no que o outro sente e verificar suas boas intenções é um passo importante no relacionamento e implica na cultivação do respeito mútuo.
Respeitar é compreender, é entender o outro com suas intenções saudáveis, ainda que por baixo de atos “atrapalhados”. Todavia, quem requer apenas dos outros a compreensão sem, sequer, parar para pensar em seus sentimentos e intenções salutares, acaba por magoar e ferir o coração alheio.
Um relacionamento forte se constrói no dia a dia, na rotina, nas conversas e desabafos sobre as dificuldades encontradas no ambiente de trabalho ou familiar. É fácil amar em finais de semana quando tudo é tranqüilo e o cansaço psíquico mais leve, bom mesmo é o exercício do amor após um dia cheio e cansativo, afinal quem ama vê no ombro alheio um lugar calmo para se encostar e desabafar sobre medos, entraves e problemas.
Amar é simples, se relacionar também desde que a pessoa saiba da necessidade da paciência e do diálogo, porque, a partir do momento em que uma boa conversa é trocada por atos ríspidos e afirmativas ofensivas, - ainda que verídicas (nem tudo o que se pensa deve ser exposto para o bem da relação) -, a relação começa a se tornar fatigante e o coração se aborrece com a dor da decepção.


Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 09 de junho de 2007.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Transigência excessiva

Transigência excessiva

“Viver é transigir”, já disse isso em algum de meus textos. Viver é transigir porque para viver necessitamos conviver e este é o exercício mais eficaz para nosso aperfeiçoamento e crescimento pessoal.
Ademais, é apenas convivendo com pessoas que nos são queridas que nos tornamos capazes, realmente, de nos sentirmos felizes e termos alegria de viver. Nenhuma pessoa é plenamente feliz na solidão, sem ter com quem compartilhar vivências, experiências e, em especial, sentimentos e carinho. O solitário vegeta em si mesmo.
Pois bem, é essa arte de transigir que no decorrer de relacionamentos, em especial os amorosos, faz com que abramos mão de algumas coisas, desejos e vontades. Ainda que, no momento, nos sintamos mal por ceder em determinado aspecto, sabemos que estamos agindo certo posto que em prol da harmonia da relação, e, consequentemente, de nossa felicidade.
Eis que, como em tudo na vida, há de existir explicitamente o meio termo. Se ceder e transigir é salutar em relação a pequenas atitudes, como abrir mão de vontades e ações comuns, é extremamente negativo quando se refere à abdicação de sonhos e metas que dizem respeito a nossa individualidade e auto-realização.
Sonhos, planos e metas são pessoais, fazem parte do psiquismo individual, são grandiosos ainda que não concretizados. Quem abre mão de amizades, de um sonho profissional ou da própria carreira em prol do outro, esta fadando sua própria vida ao tédio e, consequentemente, levando o relacionamento à bancarrota futura. Obviamente tal não ocorre se o individuo abre mão de algo por si mesmo.
Enfim, há de se usar a racionalidade para não ser egoísta em relação a atos corriqueiros, nem tolo abrindo mão de sonhos e metas futuras e relevantes, afinal, aquele que larga sua vida para viver a sombra do outro se torna um nada no mundo, porque sombras não impõe respeito, não vivem, não sentem, não agradam, elas estão sem existirem no mundo, e, um dia ou outro acabam amargando a solidão.
Ninguém quer ter a seu lado alguém sem personalidade, sem vida própria, que nada criou, nada construiu ou inventou na vida. É por isso que aquele que acaba abrindo mão de suas metas para agradar ao outro desconhece que, no futuro, além de ser infeliz consigo mesmo, será um desagrado para seu parceiro, afinal, pior do que um ser sem vida própria é aquele que é frustrado com a ausência dela, e esta frustração um dia chega.

Cláudia de Marchi

Concórdia, 08 de junho de 2007.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Ser uma estrela.

Ser uma estrela.

Não tenha medo dos dias ruins, não pense que o mundo é um mar de injustiças simplesmente por veres boiar a seu lado vítimas do descaso das autoridades e outras tantas vítimas do desamor, da infidelidade, por seres, você mesmo, vítima da má-fé alheia, do homem e sua deslealdade, do homem e sua ambição e ganância pérfidas.
A vida, meu amigo, te reserva aquilo que buscar, te dá aquilo que você lhe oferece. A vida, realmente, não é grata, ela retribui ao homem de acordo com critérios que ele desconhece porque não lhe foi dada a possibilidade de tudo saber, todavia, feliz aquele que pensa com grandiosidade e vai atrás de seus objetivos. Somente os perseverantes vencem e realizam seus sonhos, e perseverar é superar as frustrações do meio do caminho.
E é por isso que ela não se compadece com quem se sente vítima e, no fundo, pensa negativamente. A vida é amiga dos que se sentem fortes e grandiosos, dos que pensam grande mesmo em meio a pequenes de oportunidades e pensamentos. Pensamentos alheios: dos invejosos, dos mal amados e infelizes que vivem de espectadores da vida alheia, torcendo pelo fracasso dos que se mostram mais fortes e hábeis perante as tarefas vivenciais.
Não pense em desistir, não perca a vontade de criar, de seguir adiante. Erga a cabeça, respire fundo e batalhe, lute ainda que estejas ferido, mas páre para repousar, entre em sua caverna interior para refletir sobre suas táticas. Um bom vivente, é como um bom guerreiro: Sabe o momento de mudar de tática, de guardar a espada e optar por outro caminho.
Sofra. Chore. Desabafe. Se sentir dor, reclame. Sinta a saudade, goze o sofrimento para dele tirar o melhor que lhe for possivel aprender. Não tente mascarar com falsos sorrisos, com alcool ou qualquer outra forma de entorpecer seus sentimentos a dor que lhe faz sangrar a alma.
Saiba, porém, que é preciso sentir com coragem todas as dores, mas saber a hora de curtir o amor, a sabedoria e a força que aquela, em meio a espinhos, lhe trouxe. Após as calamidades o homem se torna mais maduro, mais hábil para encarar e viver grandes sentimentos.
Disse Nietzsche em “Assim falou Zaratustra”: “É preciso ter o caos dentro de si para dar origem a uma estrela bailarina”. E é por isso que não é preciso temer a dor, se entregar para a amargura, para o arrependimento, para a saudade, para a sensação de que o mundo esta fora de esquadro.
O mundo, as pessoas e suas atitudes podem ser equivocados, você não pode assentir com o equivoco nem entregar sua alegria às frustrações que costumam lhe assolar. Passe a ve-las como simples ocorrências que foram diversas de seus planos e, quiçá, das ilusões que criou durante sua trajetória.
As frustações são o reflexo da maior lição que a vida pode lhe dar: A de que a maioria dos fatos costumam ser ou ocorrer da forma diversa do imaginado, esperado ou planejado. Poucas coisas na vida surgem ou ocorrem da forma como o homem deseja. E esta verdade é uma provação a sua força interior e, em especial, a sua capacidade de usar o humor para aprender e sorrir mesmo que esteja sentindo-se desapontado ou em meio a adversidades.
Enfim, enfrente o caos dentro de sua alma, pense, reflita e use toda sua ansiedade, somada a um pouco da eventual amargura que cutuca seu coração, e mais um pouco da sensação de “estou perdido” para, aos poucos, se tornar uma estrela dançante. Uma estrela que ultrapassou as fases ruins e se tornou linda, iluminada e alegre.
Uma estrela que reflete o brilho da vida, que sai da inquietude e do caos para brilhar através da auto-superação e da superação dos obstáculos, do caos, e que, mesmo diante de novas frustrações não irá perder o brilho, pelo contrário, vai bailar lindamente e acabar sorrindo porque o aprendizado é o que lhe apraz, e ele é obtido mesmo diante das piores ocorrências.

Cláudia de Marchi

Concórdia, 04 de junho de 2007.

Mulheres: as que querem casar e as que querer ser (e são) felizes.

Mulheres: as que querem casar e as que querem ser (e são) felizes

Não é de hoje que existem dois tipos de mulheres. “Tipos” classificados de tal forma pelos anseios que possuem: as que querem casar e as que querem ser felizes. As diferenças são notórias, muito embora até mesmo alguns homens façam questão de se iludir (afinal, ninguém quer ser considerado como uma sombra do ideal alheio).
Todos os anseios aos quais as pessoas se arraigam em demasia tentem a se tornar algo ideal, ou melhor, algo que habita o imaginário do individuo como um ideal de perfeição, se tornando, pois uma ilusão. E, como tal, entorpece a racionalidade e a inteligência do homem.
Aquelas mulheres que, quer pela educação que tiveram, quer por “objetivos específicos” (como, por exemplo, ter um “bom partido” para lhe ceder, além do sobrenome, status e vida boa, já que não almejaram seu sucesso profissional e financeiro conquistado com independência) cultivam ou cultivaram o sonho do casamento acabam sendo, pela ilusão que criaram, entorpecidas a ponto de colocarem a perder boas relações e fazerem de outras que já nasceram falidas um objetivo de vida.
As que querem casar são aquelas que tudo aceitam enquanto namoradas, aquelas que não se impõem, que não exigem respeito, porque, na verdade, sequer se respeitam, pois colocam sua cara e vida a tapa de tão embriagadas que estão pelo seu ideal: o casamento.
O homem, seu namorado, enfim, é (mas não sabe) apenas uma sombra diante do ideal de sua namorada. Ela o perdoa, agrada, releva seus erros porque deseja se casar, não com ele pelas virtudes que possui, mas com qualquer homem que, obviamente, não seja pouco abastado financeiramente (ao menos, deve ganhar mais do que ela) - isso faz parte do ideal dessas mulheres que chamo de “casamenteiras”.
Pode o namorado sair com os amigos e esquece-la em casa, pode ele lhe xingar, gritas e esbravejar, pode não lhe dar carinho nem assistência emocional, pode faze-la passar vergonha diante de outros. A mulher que quer casar não se importa, ou melhor, se num dia chora e reclama, no outro vai bater a porta do pseudo-amado ou aceitar suas desculpas esfarrapadas. Tudo pela realização de seu ideal.
“Quero me casar, portanto aceito”. Esta é a verdade latente, muito embora a casamenteira tenha em seu lábios a mentira óbvia: “Eu o amo por isso aceito”. Ora, não ama ninguém quem não se ama, quem não se respeita e quem aceita uma relação notoriamente fajuta porque, no fundo, deseja sair da casa dos pais, parar de trabalhar, ficar em casa como uma mulher submissa, uma perfeita “esposa” a moda antiga, ou, simplesmente, poder afirmar para as amigas: Eu me casei.
Por outro lado, as mulheres que desejam ser felizes fazem de tudo para sê-lo no presente. Não abrem mão de sua auto-estima pensando num casamento, batalham, buscam suas realizações profissionais e desejam um companheiro que as satisfaçam sexual, intelectual e emocionalmente. Se estiverem com alguém é porque o amam e não porque querem algo, porque querem se casar, enfim.
O casamento pode, para estas mulheres, ser a conseqüência de uma relação imersa em cumplicidade, parceria, troca de experiências, apoio e respeito mútuos, bom humor, alegrias, onde ocorrer a superação de ciúmes, inseguranças e outras diferenças que, no inicio se mostraram perniciosas.
Enfim, para as mulheres que desejam a felicidade o casamento pode, apenas, ser um fruto simples de um relacionamento calcado no amor, afinal, casar para estas mulheres de inteligência e auto-estima elevadas é apenas um detalhe no quadro de sua felicidade. E esta é preexistente aquele que pode nem ocorrer nos ditames da sociedade antiga, pois, como diria minha mãe “casado é aquela que bem vive” e vive bem quem é feliz intrinsecamente sem precisar criar um ideal ilusório.

Cláudia de Marchi

Concórdia, 04 de junho de 2007.

A perfeita vida virtual

A perfeita vida virtual

Ando assustada com algumas coisas nesse mundo. Além da violência crescente, da criminalidade que aumenta de forma aberrante, da impunidade que começa grande nas classes altas e diminui em grau quando os possíveis “apenados” são pobres (mas que existe e não deveria existir em dimensão alguma) é a vontade humana de se mostrar e exibir-se que me assusta.
Na era de blogs, orkut, e outras formas de auto-exposição sem ser atitudes averiguadas no mundo real, no tèt a tèt comum, fica evidenciada a vontade que algumas pessoas possuem de apregoar para o mundo que são extremamente felizes, bem amadas e realizadas, que seu viver, enfim, é um imenso quadro cor de rosas.
A vida me ensinou, dentre tantas lições, a desconfiar do exagero. Das declarações de amor públicas, das frases afirmativas de realização, de vida perfeita e amores perfeitos, onde não existe a necessidade de complacência porque ambos são “idênticos”, onde não existem briguinhas, desentendimentos, nem lembranças incomodativas. Perfeito: Amores perfeitos, pessoas perfeitas, sábias, inteligentes e realizadas, será verdade tanta “perfeição”, ou melhor, toda esta aparência dela?
Declarações de amor puras são as ditas no silêncio dos olhares, a dois, sem que ninguém precise ver ou ouvir. Demonstração de amor verdadeira é a demonstrada nas atitudes, no respeito, na fidelidade até mesmo psíquica. Quem deseja demonstrar demais algo evidencia que tem, em si, latente algum recalque e/ou a vontade implícita de que o que aparenta fosse verdadeiro em seu âmago e real na sua “vida real” e não em sua existência virtual ou narrada.
E não é, se fosse o individuo viveria, enfrentaria seus problemas diariamente, e, entre risos, lágrimas, euforia e tédio, passaria sua vida com normalidade sem desejar fazer dela uma imensa “tela” onde pinta - para os outros verem, - de cores vivas e vibrantes o que é, na verdade, cinza e negro, ou, simplesmente, “normal” sem nada de muito extraordinário e perfeito, porque a vida e a graça dela esta na imperfeição. (Tudo o que é muito ajustado, correto, certo ou perfeito morre e/ou mata de tédio quem lhe tem. Se é que existe algo tão perfeito assim.)

Cláudia de Marchi

Concórdia, 04 de junho de 2007.