Sobre o verdadeiro pecado!

Sobre o verdadeiro pecado!
"O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida." Carl Sagan

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Recriar-se

Recriar-se

Se até uma certa idade, enfim, até uma certa “fase” de nossas vidas somos criados, educados por nossos pais, a partir do momento em que somos capazes de nos auto-avaliar adquirimos a capacidade de nos auto-recriar.

Nossos pais pecam, muitas vezes pela falta de atenção, de carinho, de amor, e outras pelo excesso de mimos e proteção. Como filha única fui “vítima” da segunda forma de agir na educação que acabou criando, para mim, vários problemas para enfrentar a vida.

Mas o tempo passa e a vida coloca em nossos caminhos pessoas que nos alertam, nos coloca diante de dificuldades e ansiedade interior que nos obriga a parar pára nos auto-analisar e perceber que, infelizmente, durante muito tempo estávamos vendo nossas virtudes e valor com uma lupa de alto grau.

A vida ensina. O tempo é sempre o melhor remédio para os males de nossa alma, não pelo fato dele passar, mas porque nosso viver esta em constante mutação e, quando nos rendemos à ele, percebemos as oportunidades de mudar que nos são colocadas à frente.

Essa é a maravilha da vida em sociedade: Todos têm o que aprender uns com os outros. Absolutamente todos. Não existe ser humano que não tenha lições a aprender com o outro, bem como algumas para ensinar. Conviver, interagir, escutar e, principalmente, ser paciente são as melhores formas de crescer como pessoa nesta vida.

Somos criados, educados por pessoas imperfeitas. Imperfeitas como nós. Nossos pais não são deuses. E assim, todos possuem algo de “má-criação” ante a mencionada ausência de perfeição de quem os educa. É por isso que, após um tempo somos obrigados a nos recriar, a nos auto-avaliar para buscarmos a mudança, para mudar, enfim. A “culpa” não é de nossos pais. Não é de ninguém, pode ser, apenas, nossa.

A partir do momento em que percebemos quão prejudiciais são os defeitos que possuímos devemos buscar um outro caminho, buscar nossa mudança, ainda que para isso precisemos da ajuda alheia. Recriar-se é dever do homem corajoso e humilde de espírito. Errar é humano, ser e estar errado também, mas manter-se no erro ciente dele é prova de ignorância e indício de arrogância.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 27 de abril de 2007.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Momentos da vida

Momentos da vida

A vida é composta de vários momentos. Momentos bons, ruins, agradáveis, tristes. Dias ruins, dias de confusão mental, de tristeza. Momentos em que nos sentimos sós no mundo, momentos em que nos sentimos tão plenos de felicidade que não cabemos em nós mesmos.
Essa é a vida. Cheia de surpresas, de altos e baixos como um as ondas de um eletrocardiograma, afinal nosso coração varia em suas vibrações, tal qual nossa existência. Tudo se torna linear quando nada mais existe a conquistar. Quando morremos.
Muitos dizem que certas circunstancias aconteceram em suas vidas no momento errado. A balzaquiana no auge da carreira diz que conheceu o amor de sua vida numa fase que não estava interessada em nada sério, como casamento e filhos. Agora, sente que deixou passar “o momento”.
Talvez. Talvez ela tenha deixado passar a pessoa que lhe faria feliz porque esperava um momento em que tudo estivesse adequado - conta bancária, sucesso e amor. A felicidade não tem receita e também não requer nenhuma “adequação perfeita”. Aliás, o imperfeito é a regra na nossa existência.
Momento ideal? Se ele existe é o presente. O passado deixou lembranças, trouxe aprendizado, crescimento pessoal, o futuro depende de nossa atitude, e, em especial de nosso agir e bem viver presencial. Ele é um mistério, o hoje é realidade, e o momento ideal, portanto especial, é o real.
Se a vida profissional esta confusa e a afetiva não, tente curtir bons momentos ao lado de quem ama. Se a vida afetiva esta tão vazia que dá para sentir um vácuo no peito, tente dar mais atenção à carreira, mas nunca esqueça que não existe felicidade compartimentada. As realizações podem ser cindidas, a felicidade requer um conjunto.
O hoje é o melhor momento para desabafar, para dizer o que sentes a quem lhe cerca, para dizer o que gostas ou não. Para dialogar, para colocar a casa de nossos pensamentos em ordem, para esclarecermos nosso sonhos e medos. Nada como um dia de cada vez. Mas dias bem resolvidos. Bem vividos. Dias e momentos intensos.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 26 de abril de 2007.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

A curtição

A curtição

Gente desprevenida no domingo à noite sem um livro bom em mãos, um calmante para dormir ou um bom filme para assistir se entrete com o Fantástico e suas "pérolas". Fernanda Lima, linda, simpática, elegantíssima apresentou, ontem, um quadro falando do comportamento dos jovens na noite. E que comportamento, para ser mais estúpido só faltava que nossos "jovens" (pessoas com 25, 28 anos não são tão "jovens" assim no meu ponto de vista) andassem de quatro.
E não andam, infelizmente, se andassem estariam, ao menos mostrando a irracionalidade de forma mais notória. Homens, mulheres que saem para "curtir" a noite. Curtir significa beijar, fazer sexo ao "primeiro" encanto, enfim, no primeiro encontro. As mulheres, segundo eles, são as "predadoras", segundo elas são as mais "decididas".
Para mim são todos seres distantes da coerência, estão distantes da auto-estima madura, da lógica que deve viver um individuo que se valoriza. Beijar, beijar e beijar. Eu, pessoalmente, não lembro de ter achado meus fartos lábios no lixo. Tampouco o corpo para vilipendia-lo após uma bebedeira, ou não. Aliás, nunca bebi quando saia à noite, ao menos nunca para ficar tonta.
Saia para dançar, ver gente, elevar a auto-estima vendo a grande maioria das mulheres se comportar de forma ridícula.Não sou hipócrita, portanto afirmo: Observar o comportamento tolo das moças que pouco se valorizam me causava um enaltecimento pessoal, pois me via como exceção, após, me dava pena, muita pena.
Não muito diferente era meu pensamento em relação aos homens. Sempre gostei de homens reservados, daqueles que ficam sozinhos, observando à tudo e à todos, homens seletivos que jamais ficam com as "faceirinhas" das festas, aqueles que saem para se divertir, espairecer e que, por isso, não habitam boates como pudins em mesa de família no domingo.
A linda Fernanda perguntou com seu agradável sotaque gaúcho: "Será que a juventude se perdeu?". Sinceramente, espero que não. Não por completo, porque a base que são os valores e a estima pessoal perderam-se em alguma curva e não foram mais encontradas. Ser solteiro virou sinônimo de beijar todo mundo, de fazer sexo com quem se quer.
Ora, mas, segundo a reportagem uma pesquisa indicou que as jovens até 25 anos não tiveram mais do que 4 parceiros e que os mesmos foram namorados. Pesquisas que envolvem perguntas e respostas são falhas. Mulher nenhuma admite que transou de primeira, que teve 14 parceiros e não 4. Basta observar atentamente o agir feminino nas festas para se constatar que tal pesquisa não demonstra resultado coerente.
A verdade é que sexo não é mais tabu, a liberdade virou libertinagem, as mulheres expõe orgulhosas seus corpos como se fossem o melhor pedaço de picanha para o açougueiro mostrar dependurado em seu estabelecimento. Foi-se os tempos do pudor, da beleza elegante, das roupas chiques. Eis o momento da barriga de fora, em que as saias parecem blusinhas mais longas.
A elegância cedeu lugar à vulgaridade, o galanteio dos homens cedeu lugar à porres homéricos. Os homens deixaram de valorizar as mulheres que, para eles, se tornaram "coisas substituíveis" e nesse hábito de mal julgar as boas mulheres vão se irritando, porque mulher decente merece e quer ser estimada, apreciada, valorizada. É díficil ser exceção nesse mundo de maiorias.
Não existem mais gentleman mas seres embriagados olhando suas presas sem ter, sequer, a capacidade de estabelecer um diálogo porque a embriagues os impede. Por trás de tudo esta a falta de amor. Falta de amor próprio, carência: falta de ter a quem amar. Assim as mulheres caem em qualquer trova, e os homens se jogam em qualquer cama, com qualquer uma.
Preservativo? Nem sempre. E a Aids continua, filhos indesejados nascem sem culpa alguma da irresponsabilidade de seus pais, e a vida vai seguindo este rumo tragicômico para seus atores principais- serial kissers e afins. Deveria existir uma "camisinha" mental, que funcionasse como um aditivo de razão ao cérebro do homem que, de racional, às vezes só tem a caracterização teórica. Na prática, o homem vem agindo como animal.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 23 de abril de 2007.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Quem "gosta da gente"?

Quem “gosta da gente”?

Quem nunca parou para pensar se aquele colega simpático não “gosta da gente”, se a moça da empresa não “gosta da gente”, que alguém, enfim “gosta da gente”. Mas, não aquele “gostar” assim, sem graça, como quem gosta de maionese com pizza e queijo com polenta.
A maior, mas a mais pura, a mais compreensível, a mais intrínseca das “ambições” que o homem carrega em seu coração é a de ser amado. É a de ser “gostado” como se fosse o único ser a despertar tal sentimento em alguém de forma a se tornar inesquecível em sua existência.
Ensandecedor, no entanto é quando a gente não “sabe” se a pessoa que esta a nosso lado, realmente nos ama ou corresponde. Por outro lado, como é enaltecedor, como é bom saber, sentir, perceber que somos amados. Basta que reparemos a alegria de um filho quando o pai o abraça, consola e beija. Os olhos brilham, as pernas balançam, a alegria comove.
O homem nasceu para ser amado. Foi criado para o amor, mas ele mesmo se desvirtuou. Por privilegiar o trabalho, esqueceu da família, por privilegiar o descanso após a exaustão, esqueceu de dizer e demonstrar o quanto ama quem lhe esperava na volta da jornada laborativa.
A mulher deixou de lado seu aspecto maternal para “pegar junto” com o homem, e assim criaram-se pessoas carentes. E, principalmente, carentes da capacidade de dar o que não receberam - amor. Mas é inerente, esta implícito na alma humana, até mesmo o mais algoz dos bandidos se enternece com um abraço materno, com um ato de demonstração de afeto.
Existe uma longa distância entre o sentir e o demonstrar. E entre a correspondência de sentimento e sua certeza. Se algum enamorado esta falecendo nesse momento, em alguma parte do mundo, ele não esta se arrependendo de ter amado, mas de não ter dito o quanto amava sua esposa, por exemplo.
Se alguém, no momento chora num banheiro porque viu o ex-namorado com outra, não se arrepende do amor que sentiu, mas do carinho que não deu e das palavras ternas que não disse. Por medo? Medo de se expor? Por dureza de coração? Por receio, falta de hábito? Excesso de auto-confiança, egoísmo, orgulho?
Não importa a justificativa, quem sente tal arrependimento vislumbra algo semelhando ao do acidentado que vê “o filme” de sua vida passar em sua frente no momento terrível - não importam os motivos, as causas, mas as ações ou omissões que teve na vida.
Sei da história de um homem admirável que morava em cima de seu local de trabalho. Ele era mecânico. Desceu para consertar um veículo que acabou caindo sobre seu corpo e o matando, ali mesmo, embaixo de sua residência. Lá, em sua casa, ficaram 4 filhas lindas, uma dedicada esposa, e um filho que costumava brincar em seu meio e idolatrava o afetuoso pai.
Quando me contaram a história eu apenas pensei: “Será que ele disse o quanto amava à todos?”. Não sei porque, mas, na época era isso que me dava um frio na espinha. Jamais perguntei nada a respeito, mas se não disse, deve ter sofrido um pouco por isso. Porque ele os amava mais do que tudo no mundo, mais do que o patrimônio que fez, mais do que as possibilidades que poderia ter tido.
Se ele soubesse que aquilo iria acontecer, talvez, tivesse “subido” mais cedo para almoçar, e ficasse mais tempo brincando com os filhos, talvez elogiasse o bife que a esposa fez e lhe desse um grande beijo. Talvez. Provavelmente.
Essa história tocou meu coração de uma forma indelével. Se eu sempre fui carinhosa, ao ouvi-la aprendi quão importante é valorizar quem a gente tem na vida, e não o que a gente possui. Amar, amar, e mais amar quem nos ama, e não aquilo que temos e podemos até gostar, mas que os ladrões podem nos levar.
Todos daquela família dispensariam a riqueza, para ter aquele homem ao seu lado. É no amor que a gente vive, são nos atos amorosos que a gente se eterniza e não naquilo que deixamos. Vamos ver quem “gosta da gente”, pelos atos, gestos e palavras que eles nos demonstram. Se gostarem, certamente terão lugar especial em nosso coração, serão eternos para nós, e nós para eles, basta que amemos intensa e sinceramente.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 21 de abril de 2007.

As amigas dos solitários

As amigas dos solitários

As palavras são as melhores amigas dos solitários. Alguns não as descobriram como tal, outros as temem, mas elas salvam nossa alma do exílio. Elas nos deixam leves nos momentos pesados de silêncio, de vazio e, porque não de “perdição”.
Perdição porque nos sentimos “perdidos”. A vida nos aponta novos rumos, nos trás outras opções e ficamos ali, absortos em lembranças, planos antigos, novos temores, e as novas possibilidades estão ali, pululando e nos causando ansiedade.
Não me refiro às palavras como elixir da forma com que eu, os poetas e todos os escritores as usam - juntando-as num papel, tentando dar-lhes significado plausível – me refiro às palavras como forma de expressão, falo em desabafo, em falar para o outro o que se sente como uma forma de se descobrir, ou simplesmente de seu uso em pensamento, em reflexão.
As palavras estão presentes, são nossas companheiras mesmo quando estamos silentes. É nessa hora que elas reinam únicas - em nossos pensamentos, em nossos ideais e idéias que habitam no mais recôndito de nosso ser.
As palavras acompanham minhas lágrimas, meus pensamentos, minhas idéias, minhas constatações, meu riso, minha conexão pessoal - daquela que sou, com aquela que fui e com aquela que desejo me tornar.
Quisera eu saber tudo, quisera eu ter sido paciente, quisera eu saber antes o que sei agora, e saber hoje o que aprenderei amanha.As palavras aliviam esta minha ansiedade, me guiam, me alentam.
Entre hipóteses, passado, futuro, silêncio, vazio de coração, receios, medos e solidão, vivo com as palavras agitando meus pensamentos e fazendo minha estrada mais bela, mais florida, e de minha carga, mais leve.
Não tenho, sempre, com quem compartilhar o meu pesar, as minhas lástimas, medos e frustrações. As pessoas criticam, menosprezam, e se críticas fossem alentar minha alma eu procuraria um padre. Todos querem alguém que, às vezes, apenas os ouça e compreenda, sem os julgar ou “apontar” caminhos.
Tenho os pensamentos, as idéias e as palavras para expressar o que sinto. Escrever é a salvação das almas sensíveis e solitárias. Para aqueles que se pegam, às vezes, sem ter com quem dividir bons momentos quando é isso que desejam, ou, simplesmente, quando precisam de um diálogo “à toa”, um desabafo. Feliz sou, feliz porque as palavras me fazem companhia. Sempre.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 20 de abril de 2007.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Nossos pais em nós.

Nossos pais em nós.

“Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiências que se teve, e o que você aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.” Este estrofe é de um texto shakesperiano chamado “Um dia você aprende”.Sensacional. Indescritivelmente belo e assertivo.
Quanto à questão da maturidade nada mais certo, por isso encontramos jovens maduros e adultos tolos, estes porque não gozaram do aprendizado que suas experiências lhes trouxeram, não o usufruíram, portanto.
Mas, a frase que nunca me sai da cabeça é a de que um dia aprendemos que há mais de nossos pais em nós do que podemos supor. Se nós não percebemos, certamente quem nos cerca percebe. São os pequenos gestos, as atitudes, inclusive e, principalmente, aquelas que gostamos de criticar: acabamos fazendo igual a eles.
E, porque não dizer, pior, afinal, se criticamos assumimos perante a vida uma espécie de “obrigação” de agir de forma superior, de forma mais sábia e diferente. Mas não é bem assim, porque quem critica traz para si a falsa coroa de um reinado de superioridade que não possui. Todos somos errantes neste mundo. Somos errantes que agimos tentando acertar.
E isso temos em comum com nossos pais. Todos humanos, imperfeitos agindo da forma que achamos certo, amando e ansiando para os nossos seres afins (filhos, irmãos, amigos, maridos, namorados) aquilo que achamos certo - na nossa visão.
Costumamos repetir os equívocos de nossos pais que tanto criticamos. Se dissermos que eles eram ríspidos e brutos, acabamos sendo, seguidamente, da mesma forma. A criação é algo que pesa forte em nós, a dificuldade de amar e demonstrar amor é algo, por exemplo, tipicamente “educacional”, depende de nosso meio.
Crianças tratadas com mais afeto se tornam adultos mais carinhosos, irão admirar a harmonia e o amor existente entre seus pais e formarão famílias calcadas sobre o carinho e afetividade. Do contrário, quem não teve tanta atenção. Pode criticar, mas terá em si a semente das atitudes mais brutas na hora de fazer valer suas vontades.
Quando, porém, chega a hora de reconhecermos que temos muito mais de nossos pais do que pensamos, passamos a seguir nossa vida, mudando a nós mesmos caso aquilo que constatamos não é o que desejamos ou valorizamos. Precisamos ser bastante humildes para reconhecer tal fato, e, mais ainda, para, pacientemente, evoluirmos, pois esta é a lei de nossa existência, aprender com as experiências, amadurecer e se auto-superar.

Cláudia de Marchi

Concórdia, 19 de abril de 2007.

Saudade

Saudade

Saudade. A saudade é o mal dos amantes. É dor que machuca a alma, é aquilo que não nos deixa dormir, o cutucão no coração que nos faz preferir o sono (prelúdio da morte) a estar acordado e a sentir.
Sentir a dor das lembranças, e, com elas a inevitável mágoa. Mágoa conosco mesmos. Mágoa pelo excesso de egoísmo, por não termos nos disposto a mudar enquanto podíamos, por não termos dito o que sentíamos quando ainda tínhamos aquela presença a nosso lado, nos dando seu calor.
Quando a saudade não é da pessoa que banimos de nossa existência por nossa própria bestialidade ou orgulho, ela se mantém forte em relação aquilo que sonhamos, almejamos, desejamos, mas que se manteve no plano dos ideais sem se transformar em realidade. Saudade daquilo que não foi, mas que viveu e pulsou forte em nosso coração.
Há, quando o fim se aproxima ou se efetiva, a saudade do início, daquela doce descoberta, da época em que havia a “saudadezinha” salutar que nos fazia correr quilômetros para encontrar quem amamos, que nos fazia parar no meio da tarde e mandar uma mensagem de “eu te quero”, a época da conquista, que, os casais inteligentes valorizam e mantém para que a relação não perca o encanto.
Tenho saudade de muita coisa, em especial, tenho saudade daquela que fui. Da moça romântica, cheia de esperança no futuro e fé no amor, tenho saudade das cartas de amor, dos bilhetes apaixonados, das flores, das datas comemoradas como se fossem os dias mais especiais do mundo. Mas, não tenho a mínima saudade da porção de mim que reinava em imaturidade e acreditava gerir o Universo.
Tenho saudade dos momentos de amor, de romance, e asco do orgulho e imaturidade que foram os pais de meus erros. Hoje eu aprendi que não "adianta" sentir essa imensurável falta do que já foi, hoje eu sei que precisamos analisar nossas condutas, pedirmos perdão, aproveitarmos nossas chances no presente, antes que elas passem e o hoje vire, simplesmente, saudade.

Cláudia de Marchi

Concórdia, 19 de abril de 2007.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Porto da maturidade

Porto da maturidade

“Deixo a vida me levar”, diz o Zeca Pagodinho, deixo a vida me ensinar, digo eu. Não quero levá-la apenas, quero gozá-la, curti-la, pensa-la, refleti-la, e, principalmente crescer, amadurecer muito, para que eu possa lembrar do passado, fazer um ou vários mea culpa e ter a consciência de que hoje eu agiria de forma diferente e mais correta graças ao que aprendi.
Fazer mea culpa, analisar o que, onde, como e porque a gente errou é mais do que saudável, é um sinal de que, se não sabemos tudo- afinal, jamais saberemos tudo nesta vida, pelo contrário, somos ignorantes em ascensão lenta e gradual- ao menos nos tornamos mais humildes de espírito.
A humildade de alma é uma grande virtude, é um sinal de sapiência, de grandiosidade espiritual. Só não se auto-analisa e critica os ignorantes, e estes são, invariavelmente aqueles que costumam acreditar que são vítimas da vida, que sempre foram e são os “mais corretos e justos” no mundo.
É necessário que entre as quatro paredes de nossa alma nos dispamos do orgulho, joguemos longe os mecanismos de defesa de nosso ego e nos analisemos de tal forma: sem adornos e sem a necessidade deles, posto que estamos a sós. A sós conosco, longe da crítica alheia, mas sujeitos a nossa que deve sim, ser severa.
Todavia, reconhecer os erros e enganos do passado, averiguar que durante algum tempo acreditamos possuir uma razão inexistente, perceber quão injustos fomos, bem como a forma egoísta com que agimos não implica em manter na memória a culpa constante, pelo contrário, o mea culpa deve ser um caminho para o auto-perdão.
Mas, para se perdoar é preciso ela: A grande, a iluminada, a toda poderosa humildade. Humildade para reconhecer que não somos os únicos errantes sob este lindo céu, para que percebamos que nossos erros ensinam e o aprendizado que nos deixam são os únicos bem valiosos realmente nossos neste mundo - ninguém tira, ou rouba de um homem a sabedoria que a vida lhe trouxe, o aprendizado que adquiriu, inclusive e principalmente através da análise de seus erros.
Aos 25 sei mais do que sabia aos 23, aos 22 anos. E com 21 sabia muito mais do que achava crer aos 19 anos, e assim é a vida. Se soubéssemos o que sabemos hoje no nosso “ontem” tudo seria diferente, mas, será que teria a mesma graça? Será que a luz da vida não está nestes pequenos mistérios? No errar, analisar, se culpar, se perdoar, superar, e continuar trilhando os caminhos que optamos? Vivendo, amando, se auto-analisando e aprendendo - somos abençoados constantemente, mas nem sempre percebemos.
Eu, você, todos estamos neste barco chamado vida que nos leva ao porto da maturidade desde que aceitemos pagar o preço de errar, constatar as mancadas, erguer a cabeça e aprender com elas, sem muitas lástimas, sem muita tristeza - sempre há tempo para recomeçar, para fazer diferente, para ser e se demonstrar mais sábio, mais maduro.
O tempo não volta atrás, mas a vida sempre nos traz novas oportunidades, basta que saibamos aproveita-las, basta que tenhamos humildade para aplicar na prática do presente as lições que aprendemos no passado, e que, através de nossa auto-análise fomos buscar por entre os espinhos da saudade e do arrependimento, que, esmagados hoje, se tornam a bela flor da sabedoria.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 16 de abril de 2007.

Timbres humanos

Timbres humanos

Adoro música, ouvir música é para mim uma ótima forma de espairecer, de sentir a alma distrair-se ouvindo melodias com letras poéticas, em especial as que falam de amor. Pois bem, observava o timbre da voz de certos cantores e percebi quão difícil é dizer que "fulano" é melhor que "sicrano", posto a diferença existente entre suas vozes.
Enfim, a peculiaridade com que cada um canta, o timbre da voz de cada cantor faz com que ambos sejam bem julgados como cantores sem que se consiga definir "quem supera quem". Na vida, tal qual entre os timbres das vozes de cantores cada pessoa tem suas características especiais, sem que ninguém seja melhor do que ninguém, mas, apenas diferentes.
Logicamente, os conceitos de bom ou ruim dependem do ponto de vista de quem julga. Uma pessoa admirada por mim, pode ser detestada por outro, e é nessa estrada que a vida segue seu curso sendo as diferenças existentes entre os seres o mais belo adorno que Deus deu à ela. Se ninguém canta da mesma forma, ninguém vive, pensa e sente de forma igual, e ai esta a beleza inerente à existência humana.
Eis uma das maiores provações do ser humano que, acaba por ser uma prova de sua maturidade psíquica: A capacidade que adquire de respeitar as diferenças, de aceitar o outro da forma com que é e pensa, verificando que o que existe entre eles são formas diferentes de pensar, de ser, de viver, enfim, mas, não superioridade ou inferioridade latentes.
Nosso pensar, nossa maneira de ser, de sentir o mundo, de curtir os sentimentos, constituem nosso "timbre" na vida. Cada um tem o seu, de forma que é impossível taxar crer que nossa forma de julgar é "perfeita"- pode ser que seja, mas para nós, não para o mundo. As diferenças estão na forma com que o ser humano pensa, e vive e os conceitos de bom, ruim, péssimo, maravilhoso, adequado ou ideal, são inerentes a quem julga, e não a quem é julgado.

Cláudia de Marchi

Passo Fundo, 16 de abril de 2007

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Demonstração de amor

Demonstração de amor. 

Como é bonito ver um casal apaixonado. Como é bela, como é de paz a energia que emana um casal de enamorados sentadinhos, de mãos dadas, com os braços entrelaçados, olhos nos olhos, conversando animadamente configurando a “pintura” de um quadro de aparência invejavelmente romântica.
O amor surge na alma, no coração da gente. É aquela sensação de querer estar junto, de poder abraçar, beijar, mimar, ouvir a voz. Aquela vontade dar apoio nas fases ruins e, nos momentos em que as pedras atrapalham o caminho do amado lhe erguer no colo para evitar-lhe o sofrimento.
É a capacidade de entender quando o outro chora, de sensibilizar-se com o sofrer do amante, de abraçá-lo, dar força sem tentar impedir o fluir das lágrimas que vem para lavar a alma e amenizar o sofrimento que, por alguma razão, sente no peito.Amar é compreender. Amar é confiar em si mesmo e nos sentimentos do outro. 
Todavia, o amor precisa ser cultivado. E é por isso que é bela a visão dos enamorados abraçados em publico. Alheios ao mundo e ao julgar alheio eles demonstram o afeto que sentem, o carinho, a ternura, a confiança mútua em seus olhares brilhantes.Como é bom um abraço de quem a gente ama, como é bom quando somos abraçados num restaurante lotado, como é bom amar, demonstrar o que se sente sem vergonha de ninguém. 
Não basta, pois, amar, é preciso demonstrar o sentimento, regar o amor com carinho e respeito como regamos uma planta.Não basta encher a cama de carinho e prazer. Sexo com afeto existe também entre desconhecidos. É preciso cultivar o carinho, a atenção, o hábito de tocar, apertar e acariciar fora de quatro paredes. 
É preciso explicitar o amor pena da relação findar enquanto ele morre imerso em receios, e o amante se sente mal-amado.Mal amado não é aquele que desconhece o prazer sexual. Mal amado é aquele que não tem carinho, não tem a compreensão do outro. Mal amado é aquele que quer acordar com um bom dia ao pé do ouvido, com um afago e um beijo, mal-amado é aquele que queria ser tocado, ser beijado, que queria ouvir o que o outro sente – quando sincero for- mas não ouve, não tem o que deseja e o que gosta de dar - afeto, carinhos. 
É, pois aquele que ama intensamente sem sentir eco no coração do amante.Alguns em receios de demonstrar a verdade, receio de abrir o coração e dizer o que sente por medo de se machucar. A maior dor que pode existir é a do arrependimento de ter amado e não ter demonstrado, falado, cultivado, dentro e fora de quaisquer paredes. Quem ama não deve temer, nem a decepção nem ao julgamento alheio. O amor liberta, enaltece a alma e ilumina a vida. E só assim se cultiva.
Cláudia de Marchi
Passo Fundo/RS, 04 de fevereiro de 2007.

domingo, 1 de abril de 2007

A besteira falada.

A besteira falada

Tem dias que parece que uma onda negativa cerca nosso ar, que algo de pernicioso, porém invisível aniquila nossas boas, ou, simplesmente, insossas intenções. São aqueles dias em que a gente fala uma besteira, e os outros a interpretam como uma ofensa homérica.
Feito, palavra falada: eis o motivo propício para o ambiente, literalmente se tornar infernal. A bobagem inútil que foi dita, via de regra, sem a intenção de ferir ninguém, (contudo o certo é que ela não precisava ser falada) se torna um punhal e o outro, por sua vez, saca suas espadas.
E assim começa a batalha, aquela inicial que de todas os prelúdios de guerra é a que mais deixa marcas, a que mais fere: a troca de ofensas, a mútua atribuição de culpas, as lembranças do que passou com a consideração de que tudo não passou de momentos ruins tolerados.
Poucas coisas podem ser tão desgastantes quanto discussões, porque, via de regra ocorre uma “amnésia pessoal”- quem ouviu a dita bobagem e se sente magoado, esquece de todas as besteiras que falou passando a atribuir ao outro tudo o que de ruim existiu entre eles, e. o que é pior, como se tudo que aconteceu fosse ruim.
Um relacionamento, como a vida, possui dias de sol, dias nublados, dias chuvosos, o certo é que nada pode ser perfeito quando duas pessoas imperfeitas se unem, ainda que baseadas no amor. Há de se ter paciência, de compreender que palavras mal-ditas não são “privilégios” de um e de outro - ambos estão sujeitos a dizê-las.
Mas, sem dúvida, amar é relevar, é superar brigas tolas, menções estúpidas, ciúmes imbecis, amar é transgredir as normas do inaceitável: é aceitar o absurdo pela simples capacidade de compreender o outro e suas fraquezas. E isso vale nas relações familiares, amizades e para os romances.
De fato, é sempre bom parar para pensar nos efeitos do que se diz, mas, muitas vezes a inocência e a distração são grandes. Aprender a sopesar os efeitos do que se fala é uma lição constante na vida do homem, mas, aprender a compreender as falhas alheias e os sentimentos que as baseiam é uma dádiva. Uma dádiva que só quem ama conhece.

Cláudia de Marchi

Marau/RS, 1° de abril de 2007.